200 POSTS!

É isso ai pessoal! 200 posts repletos de conteúdo irrelevante às vidas de vocês estão cravados nas páginas virtuais desta bagaça.
Posso dizer, e aí estou sendo honesto, que as views não estão como planejávamos, mas é isso ai, aos que leem não hesito dizer: É um prazer escrever a vocês.

Neste post comemorativo envio-lhes esta foto lamental!


Dois Visionários


Bem, vamos ao que interessa: NOVIDADES!
Seguinte, sobre os vlogs e podcasts, ainda iremos gravar ao menos um de cada até novembro. Why novembro? Simples, é o mês do vestibular da UFG, os posts PROVAVELMENTE não irão parar, mas precisamos dar uma atenção especial a esse processo de merda nas nossas vidas.
Estamos preparando uma espécie de "condecoração" para os leitores mais relevantes do blog, aguardem.
Agora a notícia mais tensa.
THE DOOMSDAY CLOCK!

 É o seguinte: as médias de visitas, pelo curto tempo de vida deste blog, estão satisfatórias.
MAS! Há um porém: há mais ou menos três meses, elas não crescem nem abaixam, ou seja, estamos escrevendo para as mesmas pessoas. 
MAS! não é isso que queremos, então, estabelecemos um prazo. Um prazo até Julho do próximo ano para termos um acréscimo de leitores ou esta bagaça cerrará suas humildes portas virtuais.
Não queremos que os leitores fiquem clicando desesperados no botão F5, nem que façam uma cruzada espalhando o blog, mas gostariamos que vocês, com pequenos gestos, nos ajudassem a rachar mais cabeças.
"COMO FAZER?". Simples, indicar o blog a amigos, e dizer para estes indicarem aos próximos. Claro, isso é só uma ideia, qualquer outra pode ser posta em prática e, se vir a precisar do nosso esforço, não hesite em pedir.

Basicamente é isso. 200 posts. Quem diria.



Votos à Ignorância


Selo hoje, meus voto à ignorância; Selo meus votos de desistência.
Não quero mais ter que ver esse mundo torto na minha frente.
Selo meus votos de cegueira.
A partir de hoje sou comum, sou igual, é melhor assim.
Sem críticas, sem ponderações, sem reflexão.
Não preciso de nada disso, pois agora sou ignorante. É melhor assim.
Não recebo mais métricas de estúpido nem de insano, agora sou normal.
Selo meus votos ao consumo desenfreado, agora quero tudo.
Quero celulares novos por hora, músicas enlatadas agora e mulheres ditas perfeitas que antes me pareciam sem graça. Agora sou valorizado, agora almejo o mesmo que todo mundo.
Faço votos à arrogância, já sei tudo que preciso saber. Sei apertar a bunda de uma mulher como tem que ser, sei brigar como tem que ser e sei ser idiota como todo mundo acha legal de ver.
Selo aqui meus votos ao novo mundo, pois agora sou aceito.
Não preciso mais de livros
Não formulo mais conceitos.
Não tento mais ser esclarecido.
Faço votos ao formato. Já tenho o mesmo cabelo, a mesma face, os mesmos calçados e os mesmos olhos de merda que todo mundo. Já tenho a mesma perspectiva de merda que todo mundo.
 Tenho o adjetivo “Idiota” escrito na testa.
Faço meus votos à prostituição. Pois foi isso que virei, a mais nova puta desse sistema que engloba os que o aceitam e excomunga os que acham que ele não tem uma rola bem grande para abrirem suas enormes bundas e se deixarem ser penetradas.
Hoje aceito tudo que me vem e estou muito feliz com isso.
 Já marquei a remoção do meu cérebro, vou ser como todo mundo. Que dia ótimo.
Já encomendei a roupa de marca, feita por um escravo chinês, que todo mundo usa.
Já entendi que antigamente eu tinha defeito. Como é que eu não enxergava a exuberante beleza daquela blusa de 600 reais que vêm com um símbolo enorme da marca bem no meio do busto? Como é que eu não enxergava a beleza naquele papelzinho na lateral dela escrito 600 reais?
 Eu sou muito estúpido procurando a beleza na blusa, ela nunca esteve lá.
Já consegui uma mulher, foi fácil, bastou chegar, agarrar pelos cabelos e chamar de minha.
 Como é que eu não vi a bela praticidade desse mundo?
Eu realmente era muito ingênuo.
Renuncio a humanidade, pois como todo ser humano de agora, o deixei de ser. Pois quando se abre mão do cérebro que se tem, abre-se mão do único bem que distingue o ser humano dos demais animais.
Agora, com votos selados, sou colocado no curral junto com todo mundo. Agora sou um deles.
Realmente é um dia muito feliz.

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Ps: Hoje não tivemos pós-zumbis, pois estou preparando a season finale, ou seja, semana que vêm, DOIS EPISÓDIOS PARA VOCÊS!

Ninguém vai sair vivo daqui

            Todo mundo já ficou cansado de saber que Rock in Rio não é festival de rock. Nunca foi, desde o começo, um evento que tivesse só rock de verdade. A questão é que, no primeiro deles, em oitenta e cinco, os organizadores foram capazes de trazer uma porrada de bandas gigantes e esses pops escrotos e derivados eram uma coisinha menos que coadjuvantes.
            Mas é inacreditável que, se o sujeito quisesse assistir ao Elton John, teria de aturar Claudia Leitte e Katy Perry antes, e que mais de cinquenta por cento das bandas não são de rock! Me deparei com um vídeo onde a Claudia axezeira dos infernos era vaiada e confesso que fiquei até satisfeito, mas logo depois fui descobrir que as vaias não foram motivadas pelo óbvio WHAT THE FUCK?! com que qualquer um se depara quando vê essa merda no rock in rio. Na verdade, ela foi vaiada e xingada porque, apesar dos apelos das pessoas que estavam em frente ao palco, cantou uma música de nome "Corda do caranguejo" e instigou uma multidão espremida a fazer a dança do caranguejo. Não preciso nem dizer o resultado dessa merda.


            Red Hot foi o show mais legal até agora (já que estou escrevendo esse post no domingo, enquanto espero para ver Motörhead e Metallica). Anthony Kiedis com um bigodinho de ladrão de mobilete e Flea brincando, como sempre. É claro que Frusciante faz uma falta absurda pra banda, mas o guitarrista novo parece não comprometer. 
            Oremos.

Dia de García Márquez

Cem anos de solidão

"(...) Recordando essas coisas enquanto preparavam o baú de José Arcádio, Úrsula se perguntava se não era preferível deitar de uma vez na sepultura e que jogassem terra por cima, e perguntava a Deus, sem medo, se de verdade achava que as pessoas eram feitas de ferro para suportar tantos padecimentos e mortificações; e perguntando e perguntando ia atiçando sua própria confusão, e sentia uns desejos irreprimíveis de desandar a dizer palavrões e xingamentos como se fosse um daqueles forasteiros, e desse permitir enfim um instante de rebeldia, o instante tantas vezes ansiado e tantas vezes adiado de mandar a resignação à merda , e cagar de uma vez para tudo, e arrancar do coração os infinitos montões de palavrões que tinha precisado engolir num século inteiro de conformismo.
─ Caralho! – gritou.
Amaranta, que começava a pôr a roupa no baú, pensou que ela tinha sido picada por um escorpião.
─ Onde está? – perguntou alarmada.
─ O quê?
─ O animal! – esclareceu Amaranta.
Úrsula pôs o dedo no coração.
─ Aqui – disse. (...)"

O amor nos tempos do cólera

"Metia-se debaixo dele e se apoderava dele todo para ela, encerrada dentro de si mesma, tateando com os olhos fechados em sua absoluta escuridão interior, avançado por aqui, retrocedendo, corrigindo seu rumo invisível, tentando outra via mais intensa, outra forma de andar sem naufragar no alagado de mucilagem que fluía do seu ventre, se perguntando e se respondendo a si mesma com um zumbido de varejeira em seu jargão nativo onde ficava essa alguma coisa nas trevas que só ela conhecia e ansiava só para ela, até que sucumbia sem esperar ninguém, se desbarrancava só em seu abismo com uma expressão jubilosa de vitória total que fazia tremer o mundo."

Memórias de minhas putas tristes

“Obnubilado pela evocação inclemente de Delgadina adormecida, mudei sem a menor malícia o espírito de minhas crônicas dominicais. Fosse qual fosse o assunto as escrevia para ela, nelas ria e chorava para ela, e em cada palavra se ia a minha vida.”

À pessoa especial

Baseado nos manuscritos da emoção, que a muito vêm e vão.

            É do conhecimento popular a informação de que é inútil tentar transpor ao mundo das palavras a emoção, o emaranhado de sensações só traduzido pelo afago, pelo toque, pelo chamego. Mas, motivado que estou, tentarei, tentarei transpor esse caos que baderna o pensamento, desconcerta o olhar e ruboriza a fronte. Pode ser que não dê em nada, mas não me quieto enquanto não tentar.
            Começa com a chegada. O olhar é meigo, não é impessoal, não é artificial, muito menos convencional, é verídico, é real, é real e me penetra, lê-me como se eu fosse um post deste humilde blog, ao menos é assim que me sinto, mas, contra a corrente comum da vergonha, isso não me incomoda. É aquele olhar que lhe traz a noção de que tudo está bem, que não existem problemas lá fora, que o que existe é o agora.
            Então.
            As mãos se entrelaçam. O toque só corrobora a ideia de que a cena não poderia ser mais real, por mais utópica que parecesse. Fico feliz, me sinto completo, bem e completo. Não ouso dizer que sei o que é felicidade, mas é assim que me sinto. As mãos se desembaraçam, se soltam para envolverem algo maior, o corpo. Abraçamo-nos. O abraço é discreto, meigo, mas simplesmente porque, aos que sabem ler, um ponto basta. Ela ergue a cabeça, me fita olhos nos olhos. Sorrio. Ela também. Novamente se embaraçam as mãos. Caminhamos. Tanto no sentido figurado como no original do verbo.
            O local é belo, pode até não ser belo de verdade, mas agora me parece. Árvores, um lago, Eu e Ela, é, parece bonito. Sentamo-nos na grama, às margens do lago. Afago o seu ombro. Comento alguma coisa, ela responde. Sorrio. Ela também. Por um momento... É isso... Eu sentado ao lado dela. Então nos olhamos. Então aproximo meus lábios dos dela e ela retribui o gesto com uma reação igual em coreografia e oposta em sentido, pois não se afasta, se aproxima também. Newton sabia do que falava. Então é o turbilhão para onde meu cérebro escorre. Por um tempo, que pode até ter sido quinze anos ou mais, nada existe, tudo se esvai do mundo da matéria, por um instante o cenário cai, tudo cai, só há um ponto fixo em toda a extensão territorial e sensorial do universo: Eu e Ela. Podem não ter passado mais que alguns segundos, mas a relatividade do tempo pode não ter limites, e a mim pouco importam as convenções do relógio, por hora o que me importam são as percepções da alma, os sentimentos, as emoções, e baseado nisso afirmo: Ficamos ali, quinze anos em um único beijo meigo onde mais nada existiu.
            E então nossos lábios se soltam. E deixam, um na boca do outro, aquele sorriso meio bobo, aquele sorriso que desconcerta. Aquele Sorriso.

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Ps: Espero que tenha gostado
           
               

Fidel para sempre, para sempre jamais



                Palhaços, para mim, nunca foram sinônimo de risadas. No tempo de eu menino (e o termo estranho, tempo de eu menino, é de algum autor irreverente e de bom português e seguro de si e de pulso firme, cujo nome não me lembra a custo de nada), no tempo de eu menino, palhaços sempre me contrariaram ao máximo. Eles nunca foram aquilo que se apregoa por todos os cantos, que são arautos da alegria: mentira tudo. Não consigo compreender como alguma sã criança consegue se entregar aos artifícios inescrupulosos do arlequim. Em que mundo uma maquiagem tão grotesca causa riso? Para mim, não, em mim o palhaço sempre despertou certo dó e um desprezo que saltava à cara na forma de sangue.
                Por mais que estes deletérios agentes do falso riso e ardilosos monstrinhos de um submundo qualquer me causem tal animosidade, não tenho vontade de escrever deles mais de um parágrafo. O maior motivo dessa introdução era construir um ambiente propício ou, assim como, contrariando-me, diria Saramago, um background, para uma pergunta demasiado pertinente para mim; que ela não seja pertinente para ti já não é meu problema, mas eu teria que, com o perdão da dureza, chamar-te arlequim. Qual é o palhaço do mundo? Explicando melhor: qual é o maior embuste do mundo moderno?
                A resposta que os leitores mais sagazes, minto, talvez os leitores mais ingênuos e iludidos pelas mentiras das revolucionárias décadas de sessenta, a resposta a que chegariam esses leitores não passa de uma pequenina ilha no centro das Américas. Cuba. Olha por um ângulo favorável e com olhos de quem quer mesmo ver e, assim, não pode Cuba não ser uma mentira. Ela não é aquilo que apregoam há cinquenta anos, ela não é um monstro de repressão e miséria e liberdades para sempre banidas. O engraçado é que no meio dos cubanos é comum ouvir dizer: aqui é ruim, mas não tão ruim como lá. Já sabe o ingênuo e sagaz leitor que o advérbio que abriga o lugar que é de um ruim pior que o da ilha refere-se aos unidos estados americanos.
                Ouvi coisas também interessantes de outras pessoas e quero repassá-las aqui. Não se deve comparar Cuba aos países do primeiro mundo ou aos países que borbulham de recursos naturais e de outras riquezas abundantes, estes não são do mesmo porte que ela. Essa avaliação seria simplesmente estúpida e caolha. Cuba deve ser comparada ao Haiti, cenário de desgraça e miséria, os dois são, sim, de portes iguais. Agora compara. Palhaços dão medo e a revolução cubana foi capaz de colocar o pé na janta dos todos poderosos do mundo.
                Mentira tudo.

                       [Imagem+068.jpg]

Pós-Zumbis 2ª temporada(9)


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Causa

                _ Um escapou. – Disse Monquei.
                _ É, eu vi. – Disse Choreilargado.
                _ E o que é que a gente ta esperando? Vamos atrás do miserável. – Opina Camaleão.
                _ Não sei se é uma boa ideia, se ele tiver algum celular ou rádio não deve ser difícil chamar reforços. O melhor é sumirmos daqui. – Disse Fronrel.
                _ E iríamos aonde? – Questiona Albinati.
                Silêncio.
                _ Bem, se ficarmos parados aqui vai ser pior – Argumenta R.
                _ Well done, peguem seu carro, eu sei de um lugar para onde podemos ir. – Diz Choreilargado
                Assim, entram no carro. Partida no motor, “ready?” “GO!”. A direção é torturante, muitos carros, muito barulho, nenhum ponto vazio para descansar a vista, nenhum resquício de ideia, nenhum resquício de Gente. Fronrel, ao volante, segue Choreilargado. Nenhuma música toca. As pessoas tornam-se aos poucos menos gente. A vontade de Fronrel era pisar na cabeça de todos eles.
                _ Como é que a gente pode tratar desse problema? – Questiona repentinamente
                _ Que problema? – Pergunta Camaleão.
                _ Esses zumb... Bem, essas “pessoas” – Tira as mãos do volante rapidamente e faz o sinal de aspas com os dedos – que estão tentando comer-nos... Se matássemos todos, o problema estaria resolvido?
                _ Talvez haja uma solução e ninguém vai precisar ser morto. Já pensou nisso? – Argumenta Monquei.
                _ Absolutamente improvável, e mesmo que a remota possibilidade exista, há a chance de ser inalcançável para nossas curtas possibilidades. – Responde Fronrel.
                _ E se nós também formos zumbis? E se estivermos apenas desempenhando o predestinado papel da “oposição”? – Questiona Monquei.
                Silêncio.
                Depois de tantas voltas chegam ao centro da cidade. Hora da discrição. Choreilargado entra em uma viela. Fronrel descobre que não era uma viela, mas sim um beco sem saída. Choreilargado desliga o carro. Fronrel também.
                _ Well, hora de entrarmos. – Diz Choreilargado
                Caminha até um daqueles “carrinhos” onde se deposita dejetos de construção civil, pede ajuda, juntos eles empurram o “carrinho”, embaixo dele há um buraco, uma rampa que leva a uma porta, uma porta de ferro. Bate nela três vezes, três vezes fortes. “SENHA!” gritam do outro lado. “Quando você entender de onde vem o cheiro, você saberá por que ele existe”. A porta se abre, do outro lado alguém que Fronrel não conhecia. Descem todos, o “porteiro” corre até os pés do “carrinho”, havia uma espécie alavanca ali, repôs o carrinho no local, a passagem estava fechada.
                _ Pensei que iria ver mais rostos conhecidos, cadê o pessoal? O Restante do seu grupo? – Indaga Fronrel.
                _ Mortos – Responde Choreilargado.
                Fronrel fica estático.
                _ Como assim mortos!?
                _ Não me faça repitir, não é tão fácil.
                _ Como ocorreu!?
                _ Não quero falar sobre isso agora, ok?
                _ E quem são esses?
                _ Esses são “sobreviventes”.
                O local era o subsolo de algum prédio. Haviam alguns quadros nas paredes, uma iluminação muito ruim, provavelmente em virtude da má qualidade do gato elétrico, e algumas pessoas. As paredes não tinham pintura, o teto era baixo, viam-se algumas pilhas de CDs nos cantos e algumas estantes improvisadas com livros, curiosamente não fazia tanto calor.
                _ Temos que ser breves. – Disse choreilargado – Isso aqui é uma espécie de consórcio, não podemos demorar demais.
                _ E como é que isso aqui funciona? – Questiona Albinati.
                _ Bem, as pessoas deixam aqui coisas que andam sendo condenadas: Quadros, livros, CDs, essas coisas. E todo mundo ajuda a manter o local e o utiliza.
                _ E essas pessoas... O que é que elas fazem? – Perguntou Fronrel, já temendo se irritar com a resposta.
                _ Vivem. Têm seus lares, seus empregos...
                _ Empregos... Empregos?! LARES!? Então é isso, é se conformar com a merda e esconder-se debaixo do carpete para fazer algo dito incorreto?!
                Fronrel mal termina a frase e se dirige para o porteiro, “abre a porta”. “Não” é a resposta. Fronrel se irrita, vira e pergunta:
                _ E que diabos você está fazendo aqui, junto deles?
                _ Foi o único lugar que me restou. Você acha que é fácil pra mim? Ter que tolerar essa porra todo dia?
                Fronrel cospe no chão.
                _ Bem, agora você tem uma opção, vai vir conosco ou vai ficar escondido debaixo do cimento?
                _ Não é tão simples assim...
                _ Não seja o arregão...
                _ É que... você não sabe pelo que eu passei, você acha que é fácil sair lá fora depois de ter visto seus amigos UM A UM sendo mortos?!
                _ Somos nós, podemos não ser o bastante, mas foi o que sobrou, vai ficar aqui nesse local esquecido por Deus ou vai sair conosco? – Insiste Fronrel.
                O Clima era tenso, as poucas pessoas que estavam lá não haviam se virado, mas Fronrel sabia que ouviam a conversa.
                _ Você tem algo aqui? – Camaleão pergunta, aproveitando a deixa.
                _ Só tenho a roupa do corpo, o carro lá fora e um maço de cigarros pela metade, eles me aceitaram como “proteção extra”.
                _ Então não tem por que esperar, vamos embora dessa porra. – diz Fronrel
                Nesse momento as pessoas, que até então estavam sentadas, se dirigem à porta.
                _ Daqui nenhum de vocês passa. – Diz um deles
                _ Ta de brincadeirinha com a minha cara né? Só pode ser. – Diz Fronrel.
                Eram 6, contando com o Porteiro.
                Fronrel dá um soco na cara do primeiro que andou em sua direção. O Ring está montado. Monquei derruba um, mas um deles desfere-lhe uma garrafada na cabeça, que o desacorda. Dois pulam em cima de camaleão, Choreilargado ajuda derrubando um deles, o outro era forte. Fronrel vai em direção ao porteiro, sentiria prazer em socar a cara do otário, mas esse era mais sorrateiro do que Fronrel pensava, saca uma faca, Fronrel se assusta e dá um passo para trás, tropeça em algo que estava no chão. Perdeu a concentração por uma fração de segundos e isso foi o bastante, o porteiro imobilizou seu braço e colocou a faca em seu pescoço de forma deverasmente ameaçadora.
                _ Ok Ok, agora chega de palhaçada, você, gordinho, larga o cara. Encosta ali na parede. Aproveita e leva seu amigo supostamente desacordado, não quero ter de me surpreender com um palhaço tentando me atacar...
                É nessa hora que se prova o enraizado preconceito sexual, o Porteiro não só não se lembrou de mandar R. e Albinati para a parede, como também as havia esquecido completamente. E o que ninguém tinha notado é que Albinati, em um surto momentâneo de precaução, foi a única a levar uma arma para o Subterrâneo maldito: O revolver de Fronrel.
                Ela dá um grito. Ela estava atrás do porteiro. Este começa a se virar, Fronrel aproveita sua rápida distração e segura seu braço impedindo um possível degolamento. Ela dispara. O som do tiro é amplificado muitas vezes pelo espaço fechado. O coice da arma quase desloca o braço de Albinati, que cai no chão com a força do disparo e sua falta de preparo. O tiro acerta o antebraço do Porteiro, pegando de raspão em Fronrel, mas só um arranhão. O “deles” que restou de pé estava estático, agora não podia fazer mais nada, estava acoado.
                _ Vai tentar algo, palhaço!? Se for anda logo, não temos o dia inteiro. – diz Camaleão
                Ele não dá um piu.
                Fronrel ajuda Albinati a se levantar. Olha-a de cima a baixo. Ela repete o gesto. Silêncio. Então ele pergunta:
                _ VOCÊ POR ACASO É LOUCA!? GRITAR ATRÁS DO CARA QUE ESTÁ COM UMA FACA NO MEU PESCOÇO E AINDA ATIRAR DE OLHOS FECHADOS?!
                _ Eu não atirei de olhos fechados.
                _ Daria na mesma se tivesse atirado.
                _ ... Eu te salvei.
                _ É, me salvou, da próxima vez tenha só um pouco mais de cuidado... Mesmo assim, obrigado, bela iniciativa, aliás. – disse Fronrel. Albinati não soube distinguir se ouve ironia ou não.
                Sairam.
                _ Pra onde vamos? – pergunta Choreilargado.
                Era uma excelente pergunta, pensava Fronrel. Para onde iriam?
                _ A propósito, que merda é essa no seu olho? – pergunta Choreilargado
                _ Tomei um tiro, acho que esse olho não vai mais servir.
                _ Trágico.
                Ambos dão de ombros.
                _ Onde será que estão o Japonês e a Bibliotecária? – Questiona R.
                Era outra boa pergunta.

Talvez avestruzes, talvez para ver


Você consegue, amigo leitor, você consegue encarar os olhos de alguém? Você consegue olhar bem lá no fundo, sem nenhum embuste, sem sorrisinhos quebradores de tensão, sem pálpebras que piscam tentando fugir, sem meias palavras, sem desvios, só o caminho denso, quilométrico e microscópico entre dois pares de globos que, mesmo reduzidos à metade, fazem rei aquele que por terra de cegos passeia?
            Ultimamente, caminho para pensar que é só isso e nada mais o objetivo homérico e primordial da vida: ter alguém para cujos olhos você pode se entregar como se estes fossem seus. E não só ser capaz de encará-los, mas também desejar que eles te conheçam, que eles compreendam tudo o que há em você, que eles te guardem e te velem.
Só que a receita de ter bons olhos que fitem os seus funciona somente se for como um espelho – reflexiva – e como uma visita ao proctologista – íntima. Ela deve ser um transbordamento de carícias, como diria o poeta. (Ah, como eu queria que as coisas, todas elas, fossem como dizia o poeta; não qualquer poeta, O poeta, o poetinha, ele, sim, sabia de fidelidade de amor e de rosas). E o que mais é necessário?
Eu penso que sim, que tenho um bom par de olhos que me fite, me conheça, me compreenda, me guarde e me vele. Ou pelo menos tente. Mas eu me perco neles, me esqueço de todo o resto quando eles me abraçam: o clima, a fome na África, a situação do sistema prisional brasileiro, o descaso e a ignorância: isso não importa e não vale uma piscadela.
Quero esses olhos nos meus, quero esses olhos em mim, quero-os para fazer como aqueles animais, talvez avestruzes, não sei, que enfiam suas cabeças em buracos quando assustados, quero enfiar os meus olhos nos dela.

               

"A gente só morre para provar quer vivemos!"

Tom Zé

       Hoje tive um sonho muito importante! Eu acho...  O que torna isso meio engraçado, pois eu nunca sonho e quando eu sonho (eu sei que sonhei!) eu não consigo lembrar o que é (e tenho a impressão que era algo realmente muito importante...). Apenas acordei com uma dor no pescoço terrível, hoje (18/09 - domingo / quando estou a escrever para vocês [ouvindo Wolfgang Amadeus Mozart], enquanto na verdade deveria estar fazendo uma redação que é pra ser entregue amanhã as 07:00 horas), e com essa inquietante sensação estranha.
       Tirando o fato de ontem eu estar com uma vontade gigantesca de matar alguém (isso acontece às vezes...), talvez pelo barulho infernal que estes, seres carentes por natureza, provocam, senti falta do silêncio do interior de uma caverna ou do cume gelado de uma montanha e só então entendi o porquê, quando me encontrei solitário apenas com o som de minha respiração. Algo simplesmente necessários; não só para descansarmos ou por nossos pensamentos em ordem, mas também para sentirmos o fluxo da vida. (Parágrafo meio desconexo, mas tudo bem...)
       Qual foi a última vez que você se concentrou apenas no silêncio a sua volta e parou pra pensar apenas nos amigos e as coisas boas feitas, e depois no que falta fazer e o que falta repetir? Sendo vestibulando e vivendo numa capital quase metropolitana, entendo que é uma situação dificil e rara pra se encontrar.
       Por que eu escrevi esse último parágrafo(?) eu não sei(!), mas algo deve ter pedido pra mim escrevê-lo (,e parece ser uma coisa legal de se fazer), ou meu inconsciente fez isso por mim, pois quando me sincronizei com o silêncio desta noite, eu não pensei em nada (o que é bem dificil! Pois não é o mesmo que pensar num plano branco ou preto, nem tentar pensar num universo completamente transparente, literalmente, pois voltará ao branco...).
       Sei que o texto está parecendo um vômito de idéias, e talvez seja, mas qual o sentido da vida se não vivê-la? Sem nada na mente e tudo no coração, do jeito que se vive uma emoção. Uma aventura em vão; apenas pra ser uma recordação. Juntos com os amigos e fazendo novas amizades; escrevendo assim a mais nobre das histórias!
       Que vontade de sentir a aventura de um outro alguém! Talvez de uma outra época e que talvez tenha se passado só na cabeça desse; Mas pouco importa! Me levando pra outro lugar em que eu possa lacrimejar e não deixar meu olho ressecar enquanto me aventurar contra o vento, sem lenço e documento, num sol de quase dezembro a segurar uma espada pra golpear um grande moinho de vento.
       Não posso mais ignorar os que vieram antes de mim! Passarei amanhã mesmo numa biblioteca!
       Damn*****! Amanhã tenho aula de manhã e até a noite e por sorte não de madrugada. De que me adianta tanto ensino se pouco o utilizo!?
Que tal um breve sorriso? Ou isso só vale quando alguém atirar numa baleia pra ela ficar baleiada?

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Ian e seu gato:
It happens all the time!

Uma história de borboletas - Caio Fernando Abreu

               André enlouqueceu ontem à tarde. Devo dizer que também acho um pouco arrogante de minha parte dizer isso assim - enlouqueceu -, como se estivesse perfeitamente seguro não só da minha sanidade mas também da capacidade de julgar a sanidade alheia. Como dizer então? Talvez: André começou a comportar-se de maneira estranha, por exemplo? ou : André estava um tanto desorganizado; ou ainda: André parecia muito necessitado de repouso. Seja como for, depois de algum tempo, e aos poucos, tão levemente que apenas ontem à tarde resolvi tomar essa providência, André - desculpem a minha audácia ou arrogância ou empáfia ou como queiram chamá-la, enfim: André enlouqueceu completamente. Pensei em levá-lo para uma clínica, lembrava vagamente de ter visto no cinema ou na televisão um lugar cheio de verde e pessoas muito calmas, distantes e um pouco pálidas, com o olhar fora do mundo, lendo ou recortando figurinhas, cercadas por enfermeiras simpáticas, prestativas. Achei que André seria feliz lá. E devo dizer ainda que gostaria de vê-lo feliz, apesar de tudo o que me fez sofrer nos últimos tempos. Mas bastou uma olhada no talão de cheques para concluir que não seria possível. Então optei pelo hospício. Sei, parece um pouco duro dizer isso assim, desta maneira tão seca: então-optei-pelo-hospício. As palavras são muito traiçoeiras. Para dizer a verdade, não optei propriamente. Apenas:

1º) eu tinha pouquíssimo dinheiro e André menos ainda, isto é, nada, pois deixara de trabalhar desde que as borboletas nasceram em seus cabelos;
2º) uma clínica custa dinheiro e um hospício é de graça.

Nostalgia amarela


De repente chora, mas vem calada
Uma vontade de tudo que vi
Uma saudade vazia do nada

São rostos cantantes na minha mente
E sorrisos que fugiram de mim
Em outro tempo distante e contente
Que me lembra do pouco donde vim
São meus amores traídos e mágoas
De uma frieza fervente sem fim
Presos debaixo das suas anáguas
De mortíferas balas de festim

De repente choram, bem lá no fundo
Dores de um querer doente e sem dó
Das cores que ela pintou no meu mundo

Mas quem pode dizer que acabou bem?
E quem não vem me apontar o errado?
O fadado à minha frente e além?
Se nem tem meu coração apertado?
E aí me nego a querer qualquer mal
Certo de que enfim estou acabado
Poças inundam meu peito de sal
E no seu colo me faço afogado

Último ato: Edadeicos X Homem sem nome


Eram meus momentos finais, eu estava ofegante, último ato, como diziam. O Edadeicos aparece, “Hora de representar” penso que ele deve estar pensando. As cortinas se abrem, a platéia tem uma cara profundamente opaca e apática, uma massa cinzenta de dez mil milhões de cabeças que juntas não davam meia. O “ambiente” era abismal, atroz, fétido, cheirava a merda, cheirava a inconsistência, cheirava a tendencioso. Então ele começa a representar. Eu estou cansado e só espero que tudo seja rápido e indolor, não quero mais lutar, não quero mais nada, desisto. Não ouso pedir que seja discreto porque com o Edadeicos nunca é, na verdade real e verídica da situação é até um devaneio sonhar com a possibilidade de uma morte indolor, com o Edadeicos nunca é, não só no sentido da aflição da carne, não, ele vai mais fundo, psicológico, como dizem. Ele começa:
_ Oh! Cara platéia perspicaz e inteligentíssima que inteligentemente se apresenta à frente desta humilde vítima que cá se encontra, sim, vocês sabem que o sou, vocês sabem, sabem que sou vítima. Profundo sofrimento tenho enfrentado, mas eis que a justiça é justa e cá estou com meu mal feitor. Muito mal ele tem me feito, ó, espectadores, muito mal ele tem NOS FEITO. Ele dizia ser bom, MENTIRAS jogadas aos nossos ouvidos, feitas para sermos enganados, claro, eu NUNCA me deixei enganar, por isso sofrí  tanto com suas acusações insolentes e de “perjoratividade” sórdida, de insolência tamanha que me fez ter vontade de retribuí-las, mas eis que aqui estou, DIGNO, VIVO, VERDADEIRO E DE PÉ, de frente a este que impensadamente ME ATACOU, NOS ATACOU.
Era o circo que todo mundo queria ver, um apedrejamento em praça pública tal qual tentaram com Maria Madalena, mas, infelizmente, pra mim não tem Jesus. Devo admitir que a atuação era fenomenal, tamanha sua maestria, ele consegue fazer para mim e para a platéia a mesma cara, mas ao mesmo tempo caras completamente diferentes, antônimas, se lhe apetece a definição gramatical. Eu poderia rebater todas as injustiças a mim lançadas, mas este júri que segue a minha frente não era um júri imparcial, não senhor, nem sequer iria me ouvir. O ambiente estava realmente opressor, era quase como se as paredes estivessem se encolhendo... Ou será que realmente estavam? Poderia ser real, quem ousa duvidar das percepções sensoriais do próprio corpo está atestando a falta de confiança na própria consciência. As cortinas do palco eram extremamente altas, quase a perder de vista, principalmente para mim, que tinha o pescoço, os braços e as pernas imobilizados, a sensação era claustrofóbica. Estava em uma daquelas engenhosas “ferramentas”, se assim se pode chamar, em que se prendiam os criminosos da Idade Média para serem guilhotinados.
_ Tem algo.......... a declarar? – Questionou-me Edadeicos, com sua fronte vitoriosa e altista.
Era óbivo que não tinha, tudo que poderia ser tentado já havia sido, agora era esperar o fim do espetáculo, meu problema foi ter sido otimista demais, eu demorei perceber que não é contingente que muda o conteúdo, mas sim o oposto.
_ Vêem, ó, grandes amigos, VOCÊS, COM SUA PERCEPÇÃO IN-DU-BI-TÁ-VEL, vêem o que eu vejo?
Que idiotas, era visível na cara deles que eles não enxergavam porra nenhuma, mas gostavam da pose, precisavam da pose, muito provavelmente nem estavam entendendo merda alguma do que dizia Edadeicos. Isso me fazia lembrar aquela parábola do Rei que encomenda uma roupa muito bela, mas enganam-lhe falando que a roupa que haviam feito era de um tecido especial, que só poderia ser visto por pessoas esclarecidas. Todo mundo olhava para o Rei nu e dizia em tom burguês “Que belas vestes, ò, alteza” e coisas assim. Bando de idiotas. Agora o mesmo acontece aqui, só que o Rei sabe muito bem a vestimenta que traja... em pensar que eu já lutei por esses malditos. Que maneira inteligente de agir, devo admitir, dar a eles a ideia de que o entendimento vem deles, não o oposto, uma estratégia que qualquer pessoa mais perspicaz percebe. Mas era essa a chave do sucesso, eles eram tudo, menos perspicazes.
E é agora que o grand-finale  começa, o derradeiro êxtase em que a platéia mergulhará antes de voltar para as correntes, amarras e algemas voluntariamente, claro. Supostamente a PERCEPÇÃO IN-DU-BI-TÁ-VEL que eles tinham os levava àquilo. “Vocês percebem, ó, amigos, com sua PERCEPÇÃO IN-DU-BI-TA-VEL as inestimáveis vantagens de se comer merda? Claro que percebem, como não perceberiam algo tão óbvio, não?” E assim eles iam, guiados pela “ percepção indubitável das coisas”, antigamente eu rangia os dentes, hoje eu vejo tudo como uma triste piada, talvez eu não tenha enlouquecido por esperar que isso tudo seja um sonho ruim do qual irei acordar um dia, mas esse tipo de expectativa só vem provar o quão louco eu sou.
A guilhotina é erguida, a platéia se comprime em frente ao palco como se quisesse que meu sangue esguichasse em suas faces. Edadeicos da um sorriso maléfico como o do próprio demônio que talvez eu venha encontrar daqui alguns segundos. A, Edadeicos, seu velho sádico de pernas longuíssimas e finas, as calças pela canela, uma enorme barriga que todos juravam ter o dom da fala, a cabeça branca que ostentava uma cartola colorida e os braços como gravetos. Edadeicos, eu sou um aborto dele, eu sou mais triste que ele, pois ele tem a mim e eu vou morrer sem ter conseguido viver nele. “Triste o caralho, penso eu. Se for pra escolher entre conviver com essa merda ou morrer eu quero é meu asilo no inferno.”
A guilhotina é puxada. Um segundo de expectativa, minha cabeça rola no chão, a platéia invade o palco, ao fundo as risadas loucas de Edadeicos preenchem a cena com um toque dantesco. Meu último pedaço antes de ser engolido ainda pensou grilado, porque esses desgraçados não percebem essa porra toda.
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Ps: Espero que tenham gostado! XD.
PPs: Semana que vem tem algum artigo de opinião bem legal.

Pós-Zumbis 2ª temporada(8)


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Lavo minhas mãos desta imundície

                Adentraram a selva de concreto. Por mais batido que pareça o termo, é justamente isso que a cidade é: Uma selva de concreto onde vivem animais engravatados e engordurados, fingindo-se racionais e bem polidos quando na verdade é mais fácil encontrar algo de cívico na selva, a de verdade. A este lugar nossos heróis, se assim se pode chamá-los, adentram. Apesar de terem vivido toda sua breve vida naquele lugar, agora ele, o lugar, parecia demasiado sujo, demasiado feio, demasiado “armado”. A quantidade de propagandas é absurda, quase sufocante ao olhar, por liberdade poética, obviamente, já que os olhos não podem sufocar, uma vez que não são dotados de respiração

O décimo primeiro dia do nono mês de dez anos atrás


Dez anos correram desde que um dos mais representativos símbolos da prosperidade dos Estados Unidos da América foi posto abaixo por radicais anti-imperialistas. Dez longos anos da famigerada guerra ao terror. Uma década inteira de discursos, que eu rotularia como oportunistas, e os conformados chamariam providenciais. Isso não é pouco, é nada menos que dez por cento de um século. Sem mais conversa fiada que só faz cansar as vistas: há dez anos as torres gêmeas caíram, levantando uma nuvem de poeira e uma sólida máscara.
Não há crise financeira, barbáries contra os direitos humanos, crimes de guerra, opressão, destruição e mentiras absurdas que não possam ser justificados pela batalha contra o inimigo fantasiado e alegórico, o Terrorista. No seu combate não foram poupadas perseguições injustificadas, mortes e torturas; mas é claro que a parte mais obscura não dá sopa na mídia. O relevante é que todos os filhos da América se abraçaram debaixo das barbas (ou da falta delas) do tio Bush e observaram as medidas recrimináveis, embora necessárias, para a paz da nação, obliterando um desmazelo ou outro e tocando os escrúpulos para debaixo do tapete.
Às pessoas bem lidas, toda essa história faz lembrar a célebre obra do quadrinista Alan Moore, Watchmen, onde um homem inteligentíssimo traça um plano para voltar todas as animosidades beligerantes que estavam travadas entre americanos e soviéticos para uma terceira ameaça, hostil aos dois polos. Não é como se os norte-americanos estivessem em guerra civil no início do século vinte e um, mas o fato é que muita coisa estava a ponto de entrar em colapso. Jogada de mestre, George.
Façamos jus às vítimas do onze de setembro: elas foram os mártires do levante, a palha que o fogo teve para consumir.
Mas tudo bem, vamos esperar com o queixo apoiado nos punhos e estes apoiados pelos cotovelos nos joelhos, vamos esperar que esse mausoléu vire todo ruínas e choros de dez anos.



Fofoca


A comunicação, sem dúvidas, foi uma das características evolutivas mais importantes para o ser humano, sendo essa fundamental para a formação de uma sociedade. A partir deste agrupamento, era essencial saber uns sobre os outros, em que tais informações contribuiriam para o desenvolvimento da comunidade. O que provavelmente nos levou ao topo, como sendo os animais dominantes desta era terrestre, hoje é visto como algo negativo, denominado de “fofoca”; algo no mínimo irônico.
Talvez seja por isso que mesmo a fofoca sendo tachada como algo prejudicial, vemos a sua contínua propagação, pois ela exerce um papel de manutenção social. Porém esta ferramenta social, às vezes, sofre o efeito de telefone sem fio, o tradicional causo popular de “quem conta com conto aumenta um ponto”, fazendo com que essa cause danos prejudiciais aos envolvidos, dando a fofoca sua má fama.
                Mas tirando o lado ruim que envolve a fofoca, podemos ver que esse hábito de falar da vida alheia já se tornou algo do ser humano, que traz até um pouco de prazer, o que talvez explique o sucesso das telenovelas da atualidade, em que nas rodinhas de amigos é um assunto muito invocado e associado com coisas cotidianas, o que ressalta implicitamente o papel daquela.
                Hoje, é impossível, por a gente viver em sociedade, a gente não falar dos outros, tanto porque são outras pessoas que te representam politicamente, que convivem com você, que mudam seus pensamentos (...) e é de fundamental importância você se interar sobre o envolto desses. Ou seja, se a fofoca tiver um fim, não será por agora, pois a mesma já evoluiu para coisas que você não se desvincula mais tão facilmente, como a mídia, a qual sofremos enorme influência.