Pós-Zumbis 3ª temporada (2)


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O tempo vai passando, as pessoas vão sofrendo e as cores vão desbotando.

                As sirenes viram a esquina e chegam a nossos personagens. São veículos negros como a noite e imponentes como uma guitarra Double-neck. Deles não descem os habituais policiais com ar pachorrento que nossos protagonistas estão acostumados a ver, descem homens engravatados. Para Fronrel são todos a mesma ladainha. Direciona o revólver para um deles, mas é surpreendido por uma abrupta coronhada no nariz. Eles eram rápidos, profissionais e rápidos, profissionais, rápidos e impiedosos. Eram três. Usavam gravatas, como já foi dito, partindo do pressuposto que gravatas são acompanhadas de, no mínimo, uma camisa social, estes tinham a dita camisa, de marca cara, e também ternos muito pomposos e alinhados. Tinham um cabelo impecavelmente penteado e com uma quantidade absurdamente caricata de gel, o que conferia ao cabelo um brilho quase futurista. Linda acabava de abater o último zumbi. Aponta a Desert Eagle para um dos agentes, mas é abruptamente surpreendida com um tiro na mão, que a desarma. Choreilargado, percebendo a situação de desvantagem, limita-se a erguer as mãos, mas mesmo assim é alvo de um golpe nos joelhos, que lhe faz cair no chão.
                _ Não estamos aqui para brincar – diz um deles, de forma muito rápida e mecânica.
                _ É, não somos como os outros, não estamos aqui para brincar – diz um outro, eles eram quase gêmeos.
                _ Vocês já tiveram sua cota de diversão, agora chega de brincadeira – diz o terceiro.
                _ Vocês nos levarão até seus comparsas – impõe um deles.
                _ É, até seus comparsas – diz um outro.
                _ A-G-O-R-A! – dizem os três em uníssono.
Silêncio. Fronrel estava visivelmente preocupado, mas decide interpretar o porra louca. Vestido o persongem, ele solta:
                _ Isso é sério? Vocês realmente esperam isso? – dito isso Fronrel solta sua gargalhada mais grotesca possível, dando a entender que aquela era a melhor piada do universo.
                A face dos três permanece inalterada. Linda olha para Fronrel com um misto de curiosidade e incredulidade. Choreilargado está visivelmente impressionado com a cena toda.
                Em uma velocidade que nenhum dos três, os protagonistas, percebeu, o Engravatado do meio desfere um chute na barriga de Fronrel. A gargalhada e abruptamente pausada. Falta ar nos pulmões de Fronrel, escorrem-lhe lágrimas pelo canto dos olhos, ele busca avidamente o ar, mas este parece recusar-se a entrar em seu corpo. O engravatado volta a sua posição e nada diz, é como se nem tivesse se movido. Choreilargado solta:
                _ Vocês esperam mesmo que os entreguemos?
                _ Não só esperamos, como obrigaremos se necessário for – diz um deles.
                _ É, obrigaremos – diz o outro.
                _ Sim, se necessário for, obrigaremos. – complementa o terceiro.
                Era curiosa a forma que se olhavam quando faziam interferências nos comentários um do outro, olhavam-se e começava a balançar a cabeça levemente, dando a entender que estavam em um debate.
                _ Vocês arriscariam a vida de inocentes para salvar estas parcas pessoas que são seus supostos amigos? – Pergunta o que deu o chute em Fronrel.
                _ Ninguém é inocente – diz Fronrel, ainda com a voz debilitada – se queremos um culpado para quase tudo, basta nos olharmos no espelh...
                _ Pare de falar merda. – interrompe um deles.
                _ É, sem falar merda, por favor. – completa o outro.
                _ É, no shit – diz o outro, em um inglês injustificável à ocasião.
                _ Você irá nos dizer SIM onde estão seus comparsas, sabe por quê? – pergunta um deles.
                _ É, você sabe por quê? – completam os outros dois.
                Sem dar tempo à resposta de Fronrel, um deles, eram indiferenciaveis, completa:
                _ Porque nós temos posse de duas pessoas que você deve julgar importantes. – diz um deles.
Pela primeira vez ele retira os óculos escuros, seus olhos são quase alvos, desconcertantes de se olhar por muito tempo, mas mesmo a ausência dos óculos não contribui para um olhar mais humano, a figura continua impavidamente fria. Ele saca um tablet e da um leve toque na tela, materializa-se uma imagem do Japonês e da Bibliotecária, ambos amordaçados e visivelmente fatigados, a julgar pelo estado das roupas e da própria opressão da foto, estão naquela situação há bastante tempo.
_ Filhos-da-pu... – iria dizer Fronrel, mas é brutalmente interrompido por outro chute na boca do estomago, que gerou toda aquela reação que está descrita parágrafos acima.
_ Sem palavrões, por favor.
                _ É, sem palavrões.
                _ Nossos ouvidos não são penico, só nós podemos dizer palavrões aqui, porra.
                Fronrel desespera-se. O que fazer? Morrer ali? Da maneira mais estúpida possível? E por tabela deixar dois companheiros à própria sorte? Ou entregar outros tantos e ter o risco de foder com tudo? Tenta sacar se revolver. Antes de sentir a textura do cabo de madeira, um engravatado, em um movimento coreográfico, perfura sua mão com uma faca. Fronrel urra de dor. Eis que Linda dispara, não a arma, mas a língua; entrega a localização, entrega o esconderijo, entrega quantos são e o que têm para proteção. Fronrel a olha com incredulidade, mas não a repreende, no fim, era a decisão mais sensata. Choreilargado estava de cabeça baixa.
                _ Muito bem. – diz um Deles.
                _ É, parabéns. – insufla o outro.
                _ Isso ai. – diz o terceiro, dando um soquinho ridículo no ar, em sinal de aprovação.
                Os carros e armamentos são deixados para os lixeiros retirarem. Seguem algemados nos dois carros dos agentes. Choreilargado e um engravatado em um; Ian, Linda e os outros dois no outro. Fronrel começa, cochichando:
                _ E agora? Que fare...
                _ Sem conversas, por obséquio. – diz um deles.
                _ É, sem tentativas de fuga. – pontua o outro.
                Eis que o carro que estava com Choreilargado e o terceiro agente acelera e alinha-se com o outro carro, ato contínuo, o agente que pilota esse carro solta um grito pela janela:
                _ É, sem conversas!
                Fronrel fica visivelmente embasbacado.
Algum tempo depois.
                Chegam à fazenda. Monquei e os outros, por não terem notícias de seus amigos, estavam de campana na varanda, a espera do retorno. Monquei assusta-se com aquela inesperada invasão. Saca uma pistola e a aponta para o carro.
                _ A quem devo o prazer da visita! – grita ele.
                _ Aos seus companheiros – diz uma voz, que não era a de nenhum de seus companheiros, por um megafone.
                _ Esta não é uma voz amiga! – retruca Monquei, ainda empunhando a pistola.
                A porta do carro se abre. Fronrel sai por ela, na verdade, desaba por ela. Se estatela no chão como um saco de areia. Monquei assusta-se.
                _ Acabou a palhaçada. – diz a voz no megafone – solte a arma e renda-se ou faremos coisas não tão legais com seus amiguinhos aqui.
                _ Tipo o que? – arrisca Monquei, fazendo-se indiferente.
                Um braço estende-se para fora do carro portando uma pistola, sem dar nem a típica pausa dramática dispara um tiro na coxa esquerda de Fronrel. Um urro de dor. A bala não perfura, é de borracha.
                _ Foi só um aviso, a próxima bala do pente já é perfurante e, dependendo do local aonde pegar, pode vir a ser fatal.
                R., albinati e Camaleão estão na porta da casa.
                É importante explicar o estado de espanto de nossos protagonistas. Todos eles estavam dotados de um espírito primaveril e romancista, o que lhes conferia a ilusão de serem inatingíveis, de, por não terem se transformado em zumbis, serem mais inteligentes e mais rápidos. Pobre ilusão que agora se desmantela como um castelinho de areia.
                Monquei abaixa a arma a contragosto. A voz do megafone diz:
                _ Que bom. Sábia escolha, agora venha obedientemente em direção ao veículo com as mãos levantadas para cima. A ordem vale para os outros três peraltas escondidos sob a sombra da porta.
                Eles saem. São sumariamente algemados e colocados nos carros. Camaleão tenta dizer alguma coisa, mas é respondido por uma mão na cara, o que diz “não estamos de brincadeira”.
                O carro não segue em direção ao centro, como pensou Fronrel. Mas segue para fora da cidade, para bem longe. Agora se apercebe da idiotice que cometeu. E se a Bibliotecária e o Japonês já estivessem mortos há muito tempo? Que idiota ele foi, se deixou comover por uma fotografia.
                _ Filhos-da-puta! Desgraçados! – começa a se mover afoitamente dentro do carro, chacoalhando feito um débil mental. – eles já estão mortos não é!? Vocês nos enganaram! Desgraçados! DESGRAÇADOS!
                Eis que um vidro se ergue entre o banco de trás, aonde estão nossos protagonistas, e os dois bancos da frente. O lado de trás se sela. Um pequeno vapor começa a povoar o pequeno compartimento. Os gritos de Fronrel tornam-se gradativamente mais apáticos e cansados, lhe é cada vez mais difícil proferir as ofensas. Até que cai desmaiado.
                Curiosamente no outro carro aconteceu simultaneamente a mesma coisa, mas ninguém proferiu uma palavra.
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Ps: Yep, espero que tenham apreciado. Comentem!

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