Porqueira


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Porque as coisas sempre caem quando lutam com a gravidade. Porque as charadas que vinham primeiro no “o que é o que é” não lhe tiram mais gargalhadas. Porque o cachorro do vizinho está uivando desde segunda-feira, sem intermitências, e isso é verdade. Porque todas as causas vêm de uma reticência inicial e ninguém sabe onde começou. Porque não terá postscriptum nas deixas escritas na lápide do que falou demais enquanto vivo. Porque mesmo sendo incontáveis os grãos de pó a escapar pelo vão da ampulheta, há mol de tempo e tal se conta, sim. Porque em casa de crente existem santas ceias penduradas, mas nesta o rei dos judeus se caiu para cima quando reparou-se ao lado dos bandoleros de los campos verdes, Don Quijotes de nuestro desierto, como a música diz cantando. Porque nem o cara de caneta bic preta na mão a modelar o cachorrinho que se deita ali no colo da moça pintada a que por ti é assistida parar-se sonhando na cadeira de balanço, nem este cara sabia que podia fazer moto: se perguntar-te por que não batem as proporções do motoqueiro e sua motoca, saibas que a resposta não será que eu cá, inocente, faço isso pela primeira vez, mesmo sendo a primeira, fiz na intenção boa, vai tudo ser proporcional e reto, nada torto; mas já que este tronco torto saiu, foi porque as coisas sempre caem quando lutam com a gravidade. E é o que há no plano, coisas se desapegando da gravidade do mundo a que pertencem para que se tornem ímãs das geladeiras de outros mundos. E a razão do ato? É porque os amantes estão um pensando noutro, um na cabeça doutro, dentro dum devaneio assim: ai de mim se o mundo dela estivesse junto do meu. E porque eu não sofro disso e nunca sofri, fiz um desenho e ri.



Para ouvir lendo as figuras, a mais linda trilha, do mais lindo filme: 






Um comentário:

  1. Olar Kaito,vc desenha muito bem vejo todos os seus desenhos muito massa. E por sinal vc é muito inteligente.

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