O anel de prata no anelar


                E cá estou, usando ele. Quem diria. Não pela razão de usá-lo, mas por usá-lo; eu, que sempre tive um desconforto quase mortal ao usar qualquer tipo de anel, agora uso uma aliança: Estou namorando. É curiosa a maneira pela qual estas coisas tomam forma; comecei a sair com a dita cuja e, após três meses, passando pela porta de uma joalheria pensei “well, porque não tentar?” E sai de lá com um par de anéis, obstinado a colocar um deles no anelar da linda mão da pretendente, e assim ficou. Ainda não era o de prata, mas era um que simbolizava o mesmo, sem tanta sofisticação, mas com mesma carga intencional.
                Na rotina não mudou muita coisa, o sair, os locais, os horários… nada disso mudou, mas o toque substancial e abstrato foi sacudido sem pudor, o abraçar, o olhar, o tocar, o falar, o sexo… parecem adquirir um sabor especial, não dizendo que sexo com “estranhos” seja algo ruim, mas parece que quando se está namorando a coisa é mais… engajada, mais detalhada, mais atenciosa.
                Foi com um “namora-me” que abri a caixa de alianças, após uma música, que não é minha, mas que cantei para cortejá-la, não que precisasse, honestamente falando, mas era como uma ultima sutileza antes do ápice do ato, a cereja do bolo.
                No método, me ative ao tradicional, o ajoelhar perante a dama, o olhar encontrando o dela e a pergunta que, por mais premeditada que estivesse, ainda me fez tremer as mãos ao proferi-la. A caixinha era um requinte a parte, era uma rosa que se abria e, dentro dela, guardava as duas reluzentes circunferências.
                Ainda é caso novo, mas, dando-se tempo ao fermento, vejamos o resultado; por hora o que me basta é que gosto dela, gosto muito dela, e vejo nos olhos dela a mesma coisa. Um beijo, minha linda.
                Mas a história não termina aqui, bem, pelo menos o texto não.
                Já deve ter ocorrido ao leitor, primeiro porque a esta altura da história dos homens seria estranho que se fizessem grandes descobertas acerca da relação entre os dois gêneros; e segundo porque já é um consenso deverasmente difundido na sabedoria popular. Já ocorreu que é quando se para de procurar por algo que “algo” aparece? Digo não por ser meu caso, embora também não diga que não o seja, mas evoco o ponto pelo simples e curioso fato da quase infalibilidade do provérbio. Eu tive, por certo tempo, a aspiração do achado, a vontade de encontrar um baú do tesouro que guardasse dentro a mulher perfeita, aquela que não fosse fútil, que fosse inteligente e que gostasse de Pink Floyd, a caminhada foi árdua, e não digo se encontrei ou não, mas o que posso dizer é que após certas frustrações, decidi ligar o “let’s disco!” e comecei a ser um pouco mais libertino e randômico nas minhas “escolhas”, e justamente ai, perante um caldeirão de possibilidades e improbabilidades, me surge a figura que hoje povoa meus mais doces sonhos e, ocasionalmente, minha cama.
Surge-me, e o olhar desconcertado, primeiro indício da seleção mútua, aparece. E com esse facilitador acionado, bastou que marcássemos alguns encontros para percebermos, ao menos eu, que seria legal passarmos mais tempo juntos, que seria legar evoluir de “encontros casuais, descompromissados e impessoais” para o “próximo nível”, o que, aliás, não passou de pura convenção, uma vez que os sentimentos implícitos nesse “tratado” já há muito haviam aflorado em nós.
Mas não deve haver espaço para egocentrismos no namoro, por isso abro mão de dizer quão galanteador e bom amante sou, para falar que também tenho conhecimento da minha total falta de conhecimento quando o assunto é relacionamento, mas também sei que se fosse diferente, talvez não tivesse tanta graça.
Mais uma vez, um beijo, Lilia, minha namorada. =*
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Ps: Aos interessados, pós-zumbis retorna em sua ÚLTIMA TEMPORADA no mês de março. Sem atrasos (prometo)
PPs: vale lembrar a todos sobre esse aviso aqui, não quero parecer um mendigo miseribilsta falando novamente sobre isso, mas é que eu realmente queria finalizar
pós-zumbis.

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