Sunrise: o fim do mistério

Sem rodeios, aqui vem uma entrevista com Sunrise:


Por que “Sunrise”? 
Tentei vários nomes antes deste, mas sempre ficava ruim. Então me lembrei da música “here comes the sun – the beatles”, e acabei procurando algo relacionado. 

Por que você começou a comentar no Machado?
Na verdade, eu não me lembro. Só me lembro daquelas frases do orkut com referências a um tal de eugênio. Na ocasião, até eu tinha postado essa frase, sem nem saber o que era, em resposta aos pedidos do Marco e do Ian, que me assustaram no recreio do colégio, dizendo que era de importância mundial kk Talvez os textos tenham me atraído.

Qual a razão do anonimato?
Eu sempre fui extremamente tímida! E como gostaria de comentar, preferi o anonimato.

Percebemos seu desinteresse em comentar nossas publicações nos últimos meses, você tem alguma crítica quanto à qualidade do blog?

É verdade, parei de comentar. Mas não significa que parei de ler. Sempre gostei da crítica dilacerante do blog de vocês. Gosto realmente disso!

Por que você parou do comentar o Machado?

Parar de comentar no blog foi algo bem natural. Com o tempo fui diminuindo os comentários, e nem me lembro bem qual foi o último. Simplesmente aconteceu.

A ausência de seus comentários tem alguma relação com sua “religiosidade”?

Não. Admiro a tolerância e as discussões saudáveis. Ter uma opinião não quer dizer que devo me afastar de quem não consente com ela.

A maioria dos escritores do Machado são ateus e, mesmo que este blog não se prenda a este tema nem tente incitar os leitores ao ateísmo explicitamente, alguma vez nossas palavras chegaram a feri-la?
Não, estou firme em minha opinião quanto a Deus.


Você vai deixar de ler nossos posts de uma vez por todas após esta revelação?Não é o que pretendo ^^  


Então, doravante, qual nome você usará: Sunrise, Sunset, Anônimo ou seu nome verdadeiro?
Depende. Meu nível de timidez sempre me surpreende. Mas creio que não usaria o nome “sun” novamente.


Você quer ir ao cinema comigo?
Só se você pagar pra mim u_u  kk brincadeira xD Adoraria!  


Com o fim deste mistério, em sua opinião e previsão, quantos aniversários o Machado de Eugênio ainda vai comemorar?
Acho que capacidade vocês tem para comemorar quantos aniversários quiserem. Essa resposta vai depender da vontade de cada um do grupo. 


Além da insistência do único membro do blog que conhecia seu rosto por trás da Sun, o que fez com que você estivesse disposta a se revelar?
A insistência desse membro é uma parte importante nessa decisão kk Mas na verdade, eu não sei por quê. Simplesmente quis. Não vejo mais porque manter esse anonimato.


Você acredita num mundo melhor?
O que seria de mim se não houvesse a esperança? Eu creio em um mundo melhor que comece em mim. Cada um pode fazer o mundo a sua volta ficar melhor.


Você acha que a paz mundial aumentaria se houvesse mais racionalidade ou mais Deus no coração? Explique brevemente.
Ser uma pessoa racional não quer dizer ser uma pessoa má. Apenas falar que acredita em Deus não te faz uma pessoa boa. Tudo depende de suas atitudes e seus ideais. Se você pratica o amor e o respeito independente de quem o receba, saiba que você está vivendo um dos principais ensinos de Deus. Mas o legal de tudo é que Deus nos mostra mais claramente onde devemos mudar, e nos ajuda nessa tarefa. E mudar é uma forma de contribuir para a paz mundial, sem nunca se esquecer de pensar.
Tem assuntos que não dá pra explicar tão brevemente. kk



Qual seu Beatle favorito?
Não tenho preferido, nunca tive.


Você está em plena agonia de fim de ensino médio, então o que te dá vontade de fazer com pessoas que desperdiçam seu tempo com entrevistas idiotas?
Tenho vontade de agradecê-los por me tirarem dessa agonia por alguns instantes haha


O Machado de Eugênio rachou sua cabeça?
Com certeza!


Você se considera uma celebridade?
Não mesmo!


Fizemos uma enquete e descobrimos que o público prefere descobrir sua identidade à identidade do Mistereme. Você se sente comovida?
Droga, a situação está fugindo de controle kk Me comovo por terem perdido tempo fazendo essa enquete! kk


Alguém já te deu um poema? Quem?
Claro, poemas inesquecíveis e inconfundíveis. Já recebi particulares do senhor Kaito, e já recebi envelopes misteriosos de uma dupla fantástica de amigos jornalistas, onde encontrei cartas de baralho, ordens, poemas e despedidas.


Um homem sem Deus é como um peixe sem bicicleta. Comente.
Acredito que cedo ou tarde cada pessoa percebe do que realmente precisa.
Sabe, Deus me provou sua existência. Por mais que duvidem, não me importo. Nunca me conformei com a teoria do nada que cria um tudo perfeito. Isso sempre me incomodou. E por maior que fosse a inconformidade, não acreditei em Deus para achar uma solução rápida, mas por provas. E isso me encanta. No meu caso, eu tinha um vazio que eu mal sabia as dimensões, mas que incrivelmente era exatamente igual ao tamanho de Deus; e quando ele foi preenchido, eu comecei a viver.
Resumindo, um homem sem Deus não tem a oportunidade de se comparar a um peixe. Não vejo como um ser humano pode afirmar que não tem Deus, se está vivo para dizer isso. Por mais que neguemos, só há uma verdade imutável, e um dia ela será revelada a todos. É isso.  



Sunrise, quem é você? Conte um pouco sobre sua vida.

Man of science, man of faith


                Na avenida movimentada, as luzes duplicadas das máquinas correm em suas velocidades assustadoras. Para alguns, na direção de casa; na direção do tédio e da morte lenta para outros. O asfalto quente empurra as rodas emborrachadas através daquilo que os físicos chamam pares de ação e reação: os pneumáticos pressionam o betume para trás, e estes, por sua vez, mandam-nos seguir seus destinos escatológicos de todos os dias: sempre em frente.

                Um homem observa pela janela mal situada do seu pequeno apartamento no vigésimo andar de um prédio feio. Essa hora do dia é a pior, pensa, com a testa apertada contra a grade de ferro da janela que impede o voo, todo mundo tem pressa e a noite é tão inevitável. É a hora de pico dos veículos, ao pôr do sol as pessoas deixam seus trabalhos irrelevantes e vão ao reencontro de seus menos relevantes cônjuges. Ele pensa que se casar é render-se aos animalescos contratos sociais e ter filhos é perpetuar a desgraça. Mas é evidente que só diriam que ele é o desgraçado de pessimismo animalesco.


                Um caminhão, um ônibus e mais dois e três de um e outro. Há peso excessivo sobre o mundo. Mas isso é burrice. O homem só transforma o que tira da terra em outras coisas e o mesmo acontece em nível atômico na natureza. Um homem como este que se inclina contra a grade da janela não é capaz de começar a compreender e considerar as trocas de massa entre o nosso planeta e o resto do todo, ou seja, o universo. Por isso, considera que ele não pode ser responsabilizado de forma alguma pelo peso do mundo. Mas, como a desgraça está no seu sangue, sabe muito bem que, mesmo não produzindo do nada, o homem transforma o que é diverso no que é o mesmo. Que graça existe na uniformidade? Como nesses apartamentos pequenos e iguais a instâncias moleculares: não há graça.

                O transporte coletivo sobrecarregado força as pessoas a se tocarem e nenhuma delas parece muito contente com isso. Tocar não faz parte do contrato. Olham-se, falam-se, ignoram-se, sentem-se, mas o toque dá medo. É tão cru e primitivo, o homem já evoluiu deveras intelectualmente para se entregar a tal profano ato de selvageria. O rapaz da janela pousa a mão sobre a própria bochecha, onde uma barba amanhecida projeta-se. Tocar-se a si mesmo, além de redundante, também é profano. E pior: religiosamente condenável. Um homem não é forte o bastante para reinar sobre todos os outros homens; por isso botaram um rei no céu, para que ele nos reprima a todos e nos permita escapar das barbáries que naturalmente nos acompanham. Explico – o rei no céu se aborrece se o sujeito descontenta-se com o que lhe é dado; portanto, sorria e não se toque.

                O homem não pode colocar a cabeça para fora da janela porque há uma grade entre ele e o salto. Ele amaldiçoa os infernos e tudo o mais por isso. Mas finge ingenuidade ao forçar-se a ignorar o real culpado. Quem, em verdade, colocou a grade na janela?

Pós-zumbis 4ª Temporada (2)


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O panorama
                Após algum tempo de servidão, o serviço já ia se tornando rotineiro para Monquei. O ser humano tem uma das maiores dádivas, que é a virtude da adaptação; o ser humano se adapta a tudo: à miséria, às condições escassas de comida e água, à corrupção, à perda de escrúpulos… Não há exceção, as raras que algum dia chegaram a ocorrer faleceram. E não é diferente com Monquei. O primeiro caçado foi sofrido, precisou ter estômago, não dormiu durante a noite, pensava em como explicar sua postura se encontrasse R. ou algum de seus companheiros; o segundo ordenado foi igualmente sofrido, teve visões de sua moral se esvaindo aos poucos, ponderou se ainda restava-lhe alguma dignidade, dormiu muito mal; na terceira inquisição sofreu um ataque, levou uma facada no braço direito, nada grave, atirou no réu sem hesitar, sentiu culpa, mas esta foi atenuada pela atribuição da causa do fato ao próprio morto, dormiu ao meio da noite; o quarto foi pego enquanto dormia, chorava e gritava dizendo ser inocente e dizendo não ter feito nada, Monquei leva-o, dorme razoavelmente essa noite; o quinto é uma síntese que em média é igual aos anteriores, mas Monquei já dormia bem e ligeiramente sem culpa, era só não pensar muito na situação.

Condolências a Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho

   Nossa homenagem aquele que foi ator, compositor, dublador, escritor, humorista, pintor e pensador em vida: Chico Anysio.

♦12/04/1931  ~  † 23/03/2012

Aos vermes!

   Enterre os mortos, pois já não quero mais ver e nem ao menos sentir o cheiro deste que já não mais se encontra aqui.
   Deixe o apodrecer isoladamente assim como sozinho veio ao mundo de forma egoísta.
   Não deixe jamais este corpo cadavérico tocar na terra enquanto houver alguma fria carne entre as entranhas de seu esqueleto almejando assim seu retorno a natureza, pois foi ele mesmo que conscientemente em vida rompeu seus laços harmônicos com a natureza em troca de uma pouca luxuria.
   Morreu extrativista voraz de mãos limpas que preferia a natureza morta, não em um belo quadro e sim no supermercado — mais próximo de sua casa. De consciência limpa apesar de grande culpa portar, nem no purgatório merece entrar.
   Eis animal morto que não fez parte do ciclo da vida, somente como parasita.
   Ex-irmãos que ainda vivem na pouca floresta que mataram para você, ainda habitam harmonicamente em seu lar compondo a grande teia (alimentar) da vida, onde com a mesma dignidade que arrumou comida se tornou comida para que outro pudesse viver. Já você...
...apenas consumiste e na hora de morrer não pôde nem se dar ao valor para que outros sobrevivessem comendo suas proteínas ao não ser suas amigas bactérias e fungos que sempre te rondaram.
   Em tom mais claro:   O ser humano é o único que ao encontrar a foice da morte só traz tristeza. Um animal silvestre ao morrer logo é consumido por outro que assim poderá continuar a viver. A vida continua não por causa dele... sua causa*... não por você...


     Mesmo já conseguindo até sentir a respiração da morte baforando em seu rosto não-enrugado e sentindo seu futuro em um lampejo, pouco lhe resta a fazer a não ser se lamentar e procurar se consolar na única certeza da vida.
     Doces sonhos são feitos disto! E é por isso que todos procuram por algo.
O que estamos procurando?

Marilyn Manson - Sweet Dreams
     Estaríamos então procurando contrariar essa única e cruel certeza da vida numa espera da vinda de algo sobrenatural que venha dos céus e nos salve? Como saber? Se nem mesmo conseguimos perceber o que realmente aspiramos para nossa própria vida além de futilidades.

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Fúnebre morte as das Polygonias neste texto, com baixo índice de sobreviventes

Tentando transformar português em novilíngua


                “O Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação na Justiça Federal em Uberlândia (MG) para tirar de circulação o dicionário Houaiss, um dos mais conceituados do mercado. Segundo o MPF, a publicação contém expressões "pejorativas e preconceituosas", pratica racismo aos ciganos e não atendeu recomendações de alterar o texto, como fizeram outras duas editoras com seus dicionários.” ¹

                O procurador Cléber Eustáquio Neves entrou com ação solicitando que a Justiça determine a imediata retirada de circulação, suspensão de tiragem, venda e distribuição do dicionário Houaiss, porque ele não se adequou às mudanças sugeridas pelo Ministério Público Federal. A questão é que determinaram que todas as definições pejorativas para a palavra Cigano fossem removidas dos dicionários em circulação.

                O Houaiss registra que, pejorativamente, cigano é “aquele que trapaceia; velhaco, burlador” e “aquele que faz barganha, que é apegado ao dinheiro; agiota, sovina”. Ao ler esse verbete, alguém com o mínimo de bom senso perceberia que isso é um simples registro de um detalhe da língua, não uma opinião discriminatória do autor.

                Mas o mundo onde hoje vivemos é o mundo das soluções brilhantes e politicamente corretas, não é? Acham que um dicionário tem a capacidade de incitar o preconceito num leitor, quando na verdade ele só aponta que a palavra tomou um rumo por causa do preconceito. As pessoas vão parar de discriminar um cigano porque o dicionário não menciona esse aspecto? Santa ignorância!

                O remédio para o preconceito não é tentar fazer com que ninguém saiba que ele existe. Até porque, se eu só não discrimino um cigano porque não sei que alguém já o fez antes, nada me impede de embarcar em outros racismos diversos já consolidados. A solução é a inteligência, coisa que passou longe dos sujeitos que levam esse projeto para frente.

                Essas coisas, além de autoritárias, são burras!

Três reflexões do Mestre.

A Racionalidade Irracional
       Eu digo muitas vezes que o instinto serve melhor os animais do que a razão a nossa espécie. E o instinto serve melhor os animais porque é conservador, defende a vida. Se um animal come outro, come-o porque tem de comer, porque tem de viver; mas quando assistimos a cenas de lutas terríveis entre animais, o leão que persegue a gazela e que a morde e que a mata e que a devora, parece que o nosso coração sensível dirá «que coisa tão cruel». Não: quem se comporta com crueldade é o homem, não é o animal, aquilo não é crueldade; o animal não tortura, é o homem que tortura. Então o que eu critico é o comportamento do ser humano, um ser dotado de razão, razão disciplinadora, organizadora, mantenedora da vida, que deveria sê-lo e que não o é; o que eu critico é a facilidade com que o ser humano se corrompe, com que se torna maligno.
Aquela ideia que temos da esperança nas crianças, nos meninos e nas meninas pequenas, a ideia de que são seres aparentemente maravilhosos, de olhares puros, relativamente a essa ideia eu digo: pois sim, é tudo muito bonito, são de facto muito simpáticos, são adoráveis, mas deixemos que cresçam para sabermos quem realmente são. E quando crescem, sabemos que infelizmente muitas dessas inocentes crianças vão modificar-se. E por culpa de quê? É a sociedade a única responsável? Há questões de ordem hereditária? O que é que se passa dentro da cabeça das pessoas para serem uma coisa e passarem a ser outra?
Uma sociedade que instituiu, como valores a perseguir, esses que nós sabemos, o lucro, o êxito, o triunfo sobre o outro e todas estas coisas, essa sociedade coloca as pessoas numa situação em que acabam por pensar (se é que o dizem e não se limitam a agir) que todos os meios são bons para se alcançar aquilo que se quer.
Falámos muito ao longo destes últimos anos (e felizmente continuamos a falar) dos direitos humanos; simplesmente deixámos de falar de uma coisa muito simples, que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional. Isso, de facto, não posso entender, é uma das minhas grandes angústias.
José Saramago, in 'Diálogos com José Saramago'

Uma Democracia de Verdade 
        Eu acho que é preciso continuar a acreditar na democracia, mas numa democracia que o seja de verdade. Quando eu digo que a democracia em que vivem as actuais sociedades deste mundo é uma falácia, não é para atacar a democracia, longe disso. É para dizer que isto a que chamamos democracia não o é. E que, quando o for, aperceber-nos-emos da diferença. Nós não podemos continuar a falar de democracia no plano puramente formal. Isto é, que existam eleições, um parlamento, leis, etc. Pode haver um funcionamento democrático das instituições de um país, mas eu falo de um problema muito mais importante, que é o problema do poder. E o poder, mesmo que seja uma trivialidade dizê-lo, não está nas instituições que elegemos. O poder está noutro lugar.
José Saramago, in 'Lancelot (1997)'


Que Humanidade é Esta?
       Se o homem não for capaz de organizar a economia mundial de forma a satisfazer as necessidades de uma humanidade que está a morrer de fome e de tudo, que humanidade é esta? Nós, que enchemos a boca com a palavra humanidade, acho que ainda não chegámos a isso, não somos seres humanos. Talvez cheguemos um dia a sê-lo, mas não somos, falta-nos mesmo muito. Temos aí o espectáculo do mundo e é uma coisa arrepiante. Vivemos ao lado de tudo o que é negativo como se não tivesse qualquer importância, a banalização do horror, a banalização da violência, da morte, sobretudo se for a morte dos outros, claro. Tanto nos faz que esteja a morrer gente em Sarajevo, e também não devemos falar desta cidade, porque o mundo é um imenso Sarajevo. E enquanto a consciência das pessoas não despertar isto continuará igual. Porque muito do que se faz, faz-se para nos manter a todos na abulia, na carência de vontade, para diminuir a nossa capacidade de intervenção cívica.
José Saramago, in 'Canarias7 (1994)'

A Dama de Ferro


                A dama de ferro é um filme biográfico da Primeira Ministra britânica Margareth Thatcher. É uma narrativa deveras resumida da vida e da carreira da mulher. Descreve sua origem, suas motivações e seu inicio, sua ascensão, principais acontecimentos e atos, seu retiro e suas complicações na velhice.

                No filme, é apresentado sem muita delonga o problema de ser mulher e querer projetar-se num mundo machista e corporalista. Além disso, destacam-se os olhares de escárnio direcionados a ela por todos aqueles gordos burgueses degustadores de charuto e uísque, esse tipo ignóbil que corrompia e ainda corrompe até mesmo a mais antiga das democracias do mundo contemporâneo.

                Atentados “terroristas” do IRA, Guerra Fria e seu eventual fim, megalomania norte-americana: um período conturbado para a Ilha (assim como para o resto do mundo) comandada com rédeas firmes pela direitista de saias. Talvez seja possível traçar um paralelo entre essa célebre personagem e a nossa líder presidente da república; já que o sexo feminino no poder, tão menosprezado há pouco e que a passos curtos vem conquistando maior participação, sugere mudança, quebra de tradições obsoletas e de relações medievais absurdas; porém, o que se viu na Inglaterra de Thatcher e o que se vê no Brasil de Roussef, é o conservadorismo quase absoluto e a antiga política de apaziguamento paliativo das tensões geradas pelos movimentos sociais e sindicais.

                Diga-se de passagem, gênero não é nada e não devia representar nada para fins meramente racionais, muito menos ser fator decisivo no direcionamento de um voto. Não existe coisa mais absurda do que uma mulher que, candidatando-se a algo, diz-se militante do movimento em prol da igualdade entre os sexos, mas apela para esse ponto incansavelmente: igualdade entre os sexos, pois as mulheres são fortes e você deve votar em mim, que sou mulher! Será que sou eu o único a me enojar com esse tipo de contradição? Porque, se você se propõe a defender a igualdade, não devia firmar seu chão destacando a diferença...

                Voltando ao filme, faz-se necessário elogiar a atuação de Meryl Streep, que convence tanto como a inglesa imponente e forte, quanto como a definhada senhora sozinha no mundo. São cenas interessantes as que contrapõem em sequência a sagaz e afiada e dominante à frágil e esquecida e quase demente.

                Mas, se for preciso definir o ponto alto da obra, uma cena em especial dá braçadas violentas para arrebatar o título. Thatcher, já velha, resolve empacotar as coisas do marido para desfazer-se delas. Numa bela metáfora, ela prepara as malas que ele levará na sua partida. A vulnerável velhinha que sente saudade de tudo e tanto que já passou despede-se do marido; ele vai embora e ela afunda no desespero de estar definitivamente sozinha.

                E esse será o fim de nós todos (os grandes líderes mundiais e os vulgares da plebe), estarmos sozinhos, definitivamente sozinhos, satisfeitos ou não com o que fizemos enquanto podíamos fazer.

O mistério de Sunrise

    Faz um ano que Eugênio teve seu machado roubado, então bato palmas. O fogo da velinha sozinha começou a se apagar na segunda, com o sopro fraco do Alisson; diminuiu de tamanho com a breve baforada do Ian; apagou de vez com o quase assovio do Marco e voltou a acender; virou faíscas saltitantes com o sopro com cuspe do André e, por fim, agora apaga-se de vez com o ar e tudo o mais que sai daqui de dentro de mim, um cara que não mudou nada de quando entrei pra cá.
Ainda desenho na mão em aulas chatas, ainda tenho dois nomes: Kaito e Kaíto.
Mas não vim falar de mim, nem do Eugênio. Vim falar da Sunrise, um alguém que se manteve no anonimato enquanto comentava os posts dos meninos, na gênese do blog.
Vamos dizer que o vídeo abaixo é um pedaço delicioso do bolo onde se espeta a velinha usada. Você estará se deliciando de um belo pedaço assistindo ao vídeo abaixo! Mas o presente, invertemos a lógica da coisa, que vocês, leitores, ganharão, apesar de atrasado, será um espetáculo!
Quem é Sunrise? Aonde ela foi? Por que ela parou de comentar? Cliquem e deleitem-se!



P.s. Sim, eu pus Summer Overture para caricaturar o sensacionalismo da coisa.
P.s.s. Não teve desenho hoje? Ah, não reclame: já fiz aquele cabeçalho mó trabalhoso (mentira) e ainda esse vídeo (trash)! 
    

Primeiro Post \o/ (de muitos?)

Apesar de não ser escritor fui designado para escrever um post especial esta semana, que é uma semana especial ao MdE, pois dia 19 o nosso querido blog fez um ano \o/ .
Com falta de criatividade, mais cedo estava pensando o que iria escrever, então comecei a lembrar do planejamento do blog. Para quem não sabe, há pouco mais de um ano atrás o Marco, o Ian e o Alisson resolveram se juntar e começaram a planejar algo que ninguém sabia o que era, então começaram um viral no Orkut (que ainda possuía usuários ativos) com a frase: "Machado de Eugênio, ele vai rachar sua cabeça, em breve!". Pouco tempo depois surgiu o blog, "que tinha um estilo amplo, desde política até humor, e incrivelmente cresceu mais do que eu esperava, pouco tempo depois o Kaito se juntou como desenhista e escritor, e mais um tempo depois eu me juntei à equipe, infelizmente não escrevo tão bem como os outros, então fiquei encarregado das redes sociais, apesar de estar sem fazer nada ultimamente (como o querido Marco relembrou), estou com alguns planos para a página do Facebook, e colocarei em prática logo.
Hoje o nosso Machado está maior do que nunca e com muitos planos, espero que cresça ainda mais.
Fiquem com uma música do Halestorm, Here’s to us:

E após um ano...


                Ainda estamos aqui. Muito foi escrito, conceitos se formularam e se esfarelaram ao longo dos dias que se somam neste um ano de existência. Éramos em menor número quando a epopeia teve inicio, mas os que vieram, vieram para o bem. Ao ler o primeiro texto que ilustra estas negras páginas, um texto do Marco intitulado Instruções de Uso, lembro-me de como tudo começou, de dissabores com meus companheiros do meu antigo blog, que culminaram na minha saída, e dos diálogos vagos com o Alisson e o Marco acerca de algumas ideias também muito vagas, mas que por fim tomaram corpo no que hoje chamamos de Machado de Eugênio.
                Amor, política, religião, vida, existência, individualidade, egocentrismo, poesia, contos... tudo isso, e algo mais, já aqui foi abordado; a minha paixão por histórias seriadas fez com que eu mesmo criasse a minha, da qual, embora as diversas falhas, tenho bastante orgulho, e que se findará nessa atual última temporada.
                Mais de trezentos textos já preenchem as páginas deste blog, mas ainda agora, um ano depois, temos muito a dizer e bastante ânimo e fôlego para tal; tornamo-nos adictos, é quase automático abrir um caderno ou o editor de textos à primeira ideia que aparata em nossas cabeças. E se ainda estamos aqui, é pelo respaldo que vocês leitores dão a nós. É um sorriso facilmente conquistado a cada comentário lido, mesmo o mais gratuito, é um momento de ânimo coletivo ao nos encontrarmos, nós do Machado, e partilharmos as boas estatísticas individuais e coletivas.
                Este um ano como escritor, se me é permitida tal pretensão, me fez desconstruir verdades, rever conceitos, melhorar minha gramática, mas acima de tudo me fez mais feliz. Agradeço a meus companheiros de blog, não existem melhores, e mais ainda a vocês, Leitores.

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Ps: Em virtude da semana comemorativa, amanhã temos post do André (sim, o Tumblr) e semana que vem voltamos a ter uma programação normal, com dois textos de pós-zumbis (um na quarta e um no sábado)

Dia de anos cumpridos


                Apesar do título em plural, o Machado de Eugênio viveu seu primeiro aniversário nessa segunda feira.  Faz exatamente um ano e um dia desde que fiz minha primeira postagem. Ela tinha um tom descontraído e era uma tentativa vergonhosa de fazer humor - sim, faço humor pior do que faço as coisas em que me considero bom.

                Entrei nessa de colaborar para a manutenção de um blog porque acho linda a ideia de compartilhar coisas com as pessoas que estão por aí. Até porque, como não temos patrocinadores nem absolutamente nada dessa natureza, também não temos rabo preso (o que não implica necessariamente no contrário, rabo solto). Então sempre escrevemos o que cair na cabeça, para ser cozido na barriga a eliminado pelos movimentos peristálticos.

                Desde lá atrás, já tivemos diversas mudanças. A adesão de dois membros foi a mais notável. Kaito, que posta às sextas as endiabradas e maluquinhas criações da sua massa cinzenta da pesada. E André, que ultimamente não tem feito nada. Isso mesmo, leitores, n-a-d-a! Mudamos o layout algumas vezes e, a bem da verdade, segundo os nossos próprios interesses e vontades. Nada de um visualzinho simples e confortável para a leitura; porque a vida é dura. Dura. Né, Lourenço?

                Falamos aqui de revoluções sentados no sofá, guerra, música, cinema, amores, indignações (putas faltas de sacanagens), enfim, merda. Isso mesmo, falamos muita merda. Mas, por mais que continuemos fazendo isso, percebemos, através do nosso avançadíssimo centro de apuração de dados, que temos mais de uma centena de leitores fiéis, aqueles que em chuva ou sol, videozinhos ou longuíssimos e enfadonhos artigos de opinião, acessam diariamente o Machado.

                Para essas pessoas de coragem e até para as outras que acessam bem esporadicamente, eu encho a boca com um delicioso “Muito obrigado!”; mais ainda: o prazer tem sido todo meu.


                PS. Tenho que ressaltar que sinto falta da Sun. Ela parece ter finalmente se posto...


                 Imagine Machado no lugar de Mister President e se deleite *-*

↑ ↓

    — Mas como você chegou aqui?
    — Fazendo parte de um projeto de relativa vanguarda, iniciei com alguns amigos dois blogs, porém foi um total fracasso, pois só eu me empenhava no âmbito virtual do projeto e logo foi abandonado e enquanto isso o Ian, paralelamente a minha história, estava desenvolvendo, com certo progresso, um blog junto a seus amigos, sobre assuntos gerais, mas mais voltado para o entretenimento. Porém conflitos internos o fez afastar se do blog.
     Curiosamente ambos fomos abatidos por uma inquietação, que só futuramente descobriríamos ser a força interior do Machado de Eugênio que sem sabermos carregávamos conosco, a qual não nos deixou parar de nos manifestarmos.
     Logo o Ian re-surgiu com a ideia de criarmos um blog, mimeticamente, não sei dizer se antes ou depois dele, eu estava com planos semelhantes. Como o mesmo já sabia que eu estava produzindo alguns textos, por causa dos blogs que eu estava envolvido, me convidou para seu projeto, o qual na mesma hora aceitei, pois acho que ele já havia percebido minha empolgação para me compromissar com algo semelhante.
     De alguma forma (uma parte da história de menos conhecimento para mim), o Ian convidou também seu colega de classe e amigo Marco (e também ex-colega meu), previamente ciente da competência deste e de sua fidelidade em relação a compromissos. E assim as bases do MdE foram firmadas!

    — Quais foram suas expectativas iniciais para o MdE?

Segundo Vlog e os Seriados

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Nosso segundo vlog. É sempre um grande esforço conjunto fazer essa "coisa" sair. Reunirmo-nos todos é o primeiro desafio, depois decidir conteúdos interessantes. (Observem que pelo menos nos reunimos...). 

Aqui falamos sobre seriados. Gostos, desgostos, opiniões irrelevantes acerca da produção televisiva norte-americana. Você, que curte Walking Dead, Fringe, How I met your mother e outros, assista!


Como da outra vez, temos que reservar agradecimentos muito especiais a Pedro Henrique, que concede o único toque de profissionalidade ao nosso vlog, com uma edição bacaninha.

Pra quem não sabe, amanhã é o ANIVERSÁRIO de um ano do blog \o/
No dia dezenove de março do ano passado, começamos a escrever por aqui. E, no dezenove de março deste ano, continuaremos!
Mas com o detalhe de que várias mudanças divertidas e supimpas serão implantadas a partir da data. Até lá!

Pós-zumbis 4ª Temporada - PREMIERE

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O Fracasso
                E lá estava Fronrel, apático, triste, derrotado. Ele está de joelhos, algemado, no meio da corte. A tribuna se erguia de forma muito íngreme verticalmente, causando o inevitável desconforto da associação com um ser vivo. Era um mostro gigante que engolia os réus, sendo eles culpados ou não. Há quem jurará que aquele não era Fronrel, que era só uma paisagem, um esboço, um boneco, um travestido se fazendo passar por ele.
                Na corte faziam-se presentes toda a escória pensável e inimaginável: Os corruptos, os imorais, os maquiavélicos, os que jogavam consoante o ganho, os que burocratizavam, os que tripudiavam, os nauseabundos, os jactanciosos, os preconceituosos, os infiéis, os pretendentes a detentores da verdade, os ditadores, os tiranos, os malignos, os maculados e tudo relativo a sinônimas categorias e classes. Fronrel estava calado, uma única e gélida lágrima descia por sua fronte, não era uma lágrima de tristeza, embora ele estivesse triste, era uma lágrima de vergonha, de derrota, de embaraço pela própria ingenuidade.
                O Juiz entra em cena, é gordo, por deus, como é gordo; há quem diga que os tecidos de suas vestes poderiam facilmente circundar o globo terrestre. Suas pernas são finas e diminutas, usa sapatilhas. Tem um sotaque peculiar, algo como o sotaque angolano, mas com um quê de quem não é nascido em terras que fazem uso do português.
                _ Comecemos agora o julgamento do réu que se apresenta diante da corte, Fronrel.
                De modo a me fazer entender, chegando então aos motivos e meios que fizeram Fronrel aparecer nesta parte da história em um tribunal e algemado, volto a bastante tempo antes, e nessa volta conto-lhes o princípio de como a história termina, de como a saga se finda, de como tudo que foi lido até agora “caput”. Mas para entendermos com clareza como tudo discorre, como o evento a gera o b e este, ato contínuo, gera o c, devo regressar ainda antes à captura de nossos heróis, que ocorre no final da temporada anterior, e a síntese desse regresso é um personagem chamado Monquei.
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O TRISTE FIM DE UM HOMEM CHAMADO MONQUEI

Uma história muito boa que eu quase fiz

Clique para ampliar, leia a história do desenho e ouça a música!


Para onde vão aqueles pensamentos que de repente saem das nossas cabeças num instante de distração? Nós sabemos que eles existiram, mas não nos lembramos do que era. Às vezes, eles voltam ao passar um tempo de exaustiva tentativa de recuperação, mas que alegria! Às vezes, porém, eles ficam guardados no lugar mágico dos pensamentos perdidos.
Isso acontece porque pessoas bocejantes passam sonolentas perto de você e o bocejo quando acontece puxa uma grande quantidade de moléculas de ar, sujeira em moléculas e também acabam por pescar sem querer os fiozinhos de pensamentos que ficam nadando em sua caixa craniana. Pois a pessoa bocejante, após finalizar o bocejo, que é simplesmente a vontade inata do ser humano de cantar música lírica sem emitir som, absorve seu pensamento perdido e guarda para si, despropositado e instintivamente, numa região do cérebro chamada adeno-hipófise. Mas este ainda não é o lugar mágico dos pensamentos perdidos, pois é passageira e breve a estadia na adeno-hipófise, responsável também pela produção dos hormônios adrenocorticotrófico, folículo-estimulante, hormônio do crescimento, da tireoide, endorfina, prolactina, piraasmina, cinturafina, selvagemvagi, sendo que os três últimos necessitam da presença dos filamentos de pensamentos roubados para serem produzidos.
A pessoa que afanou o fim da frase que você estava pensando dorme. Durante o sono, os fiozinhos furtados libertam-se da adeno-hipófise e vão para o lugar mágico dos pensamentos perdidos: o sonho. Portanto, você tem a resposta para outras perguntas: por que eu tenho sonhos tão estranhos? Por que meu gênio criativo aparece na realidade dormida e não durante minha prova fudida de redação? E a resposta é: seus sonhos não são criativos, você usou um método sujo para atingir essa psicodelia toda! Seu sonho teria sido tão normal que se confundiria com lembranças caso não houvesse intervenção de pequenas partes do que o fulano estava tentando terminar de... de quê, mesmo?

Porque assim as nuvens vão embora


Pode me procurar
Quando nada mais nesse mundo souber teu lugar
Reconhecer tua silhueta ou ouvir tua voz
Pode me procurar
Quando não houver mais que silêncio entre nós
Ainda que em mim te sirva só o olhar

Corre até o meu lado
Se a chuva não der sossego pra tua cabeça
Ou mesmo o sol, o vento, a vida
Que eu te protejo

Molha meu pescoço com lágrimas
Quando apertar tua fronte em mim
Enche minha orelha de cores
Quando sorrir de verdade pra mim
Esquenta teus reumatismos
Nas minhas mãos febris por ti

Fica comigo
Enquanto nada basta e tudo falta
E a lembrança do teu rosto
É um sopro que espanta as nuvens de horror
Do céu da minha vida

Fica comigo
Porque desejo de gente que ama
Não se contraria
Fica comigo
Porque assim as nuvens vão embora, amor

Mulheres

•  Voltemos a 5,3 milhões de anos atrás: Primeiros hominídeos
•  Voltemos menos agora: século passado: 1975: Decreto da ONU oficializando uma data internacional: 08/03
•  Hoje! Data estelar: 12 do 03 de 2012: Quatro dias após o dia internacional da mulher

     Desde o surgimento do homo sapiens até o recente momento do século XX a mulher foi mal tratada e praticamente desprezada — a não ser para os fins reprodutivos e exceções. Isso pelo menos no ocidente (ou ocidentalizados), pois infelizmente em alguns países a mulher ainda é tratada como a escória.
     Infelizmente esse tratamento para com as mulheres muito se firmou nas religiões, até a culpa do homem ter que se esforçar para respirar fazendo contração de músculos, jogaram na mulher: quem foi a culpada pela expulsão do paraíso?

     "Algumas coisas nesse mundo nunca mudam! Já outras... felizmente mudam!"

     O Iluminismo surgiu e ligou o foda-se para religião e desde então muita coisa mudou! E como mudou! Começando pela visualização da mulher como um ser humano, tanto pelo homem como pela própria mulher. Tenha noção que a mulher não se via como um ser humano, como alguém que possuía direito além de deveres, e muito menos os homens enxergavam isso, se não tal submissão não teria durado tantos milênios...
     Com o racionalismo a mulher começou a ganhar seu espaço e eis o surgimento da revolução feminista. o qual as mulheres falharam! Sim, vocês perderam, mulheres! Fato!
     Vocês foram violentamente reprimidas em cada manifestações suas. Até mesmo a movimentação que deu origem a sua data foi em homenagem as mulheres que fizeram greves em uma fábrica de tecidos e por isso foram carbonizadas. Uma homenagem funerária e não uma homenagem honrosa de vitória e conquista.
     Prova maior de que vocês perderam é que vocês tiveram que se adequar a realidade masculina, se vestindo como homens para trabalhar entre estes e só conseguiram tal feito por necessidade do mercado. Que bom! Pois tal déficit foi a maior porta de possibilidade para a mulher ir entrando de jeitinho no mercado de trabalho, mesmo tendo que ouvir injurias, repressões e ganhando menos. Uma vez ativas e pensantes, ninguém mais conseguiu pará-las e espero que não se deixem calar nunca mais.
     Para essas mulheres que mostraram seu valor diante da vida, da sociedade e diante de si mesmas que merecem nosso respeito. Mas não seria a criação do dia internacional da mulher apenas mais um ato machista para reafirmar que os outros 364 dias são dos homens? Ou um ato para apaziguar as mulheres com rosas, flores, chocolates e mensagens prontas da internet para que essas deem um chega e deixe as coisas como estão?
     Não! Pois tal data internacional não foi criada que sentido tão vão para as menininhas ficarem iludidas pensando que seus amantes se importam contigo (não considerem "amante" pelo lado ilícito de como sendo aquele que comete adultério). Girl and Women, saibam que esse dia é um grande pedido de desculpa da humanidade para as mulheres por tudo que as fizemos passar (e não uma prova de amor dos homens, nem um reconhecimento por suas jornadas duplas e triplas...).
     E para cumprir com isso (o pedido de desculpas) a verdadeira função da data é marcar previamente e obrigatoriamente grandes conferencias (obviamente anuais) em quase todo o globo para debates e reuniões cujo objetivo é discutir o papel da mulher na sociedade atual. O esforço é para tentar diminuir e, quem sabe um dia terminar, com o preconceito e a desvalorização da mulher. Como por exemplo, esse ano como resultado tivemos no Brasil um projeto de lei que impede que as mulheres receba um salário menor do que o homem que exerça a mesma função.
     A essas poderosas e glamourosas femmes, as quais eu não conseguiria viver sem. Obrigado! e Desculpe por meus antepassados (homens repressores e mulheres que não se reberalaram)!

Frederico Pacência - Mário de Andrade

               Frederico Paciência… Foi no ginásio… Éramos de idade parec
ida,ele um pouco mais velho que eu, quatorze anos.

               Frederico Paciência era aquela solaridade escandalosa. Trazia nosolhos grandes bem pretos, na boca larga, na musculatura quadra-da da peitaria, em principal nas mãos enormes, uma franqueza,uma saúde, uma ausência rija de segundas intenções. E aquelacabelaça pesada, quase azul, numa desordem crespa. Filho deportuguês e de carioca. Não era beleza, era vitória. Ficava impos-sível a gente não querer bem ele, não concordar com o que ele falava.

               Senti logo uma simpatia deslumbrada por Frederico Paciência, meaproximei franco dele, imaginando que era apenas por simpatia.Mas se ligo a insistência com que ficava junto dele a outros atosespontâneos que sempre tive até chegar na força do homem, achoque se tratava dessa espécie de saudade do bem, de aspiração aonobre, ao correto, que sempre fez com que eu me adornasse debem pelas pessoas com quem vivo. Admirava lealmente a perfei-ção moral e física de Frederico Paciência e com muita sinceridadeo invejei. Ora, em mim sucede que a inveja não consegue se resol-ver em ódio, nem mesmo animosidade: produz mas uma compe-tência divertida, esportiva, que me leva à imitação. Tive ânsias deimitar Frederico Paciência. Quis ser ele, ser dele, me confundirnaquele esplendor, e ficamos amigos.

               Eu era o tipo do fraco. Feio, minha coragem não tinha a menorespontaneidade, tendência altiva para os vícios, preguiça. Inteli-gência incessante mas principalmente difícil. Além do mais, na-quele tempo eu não tinha nenhum êxito pra estímulo. Em famíliaera silenciosamente considerado um caso perdido, só porquemeus manos eram muito bonzinhos e eu estourado, e enquantoeles tiravam distinções no colégio, eu tomava bombas.Uma ficou famosa, porque eu protestei gritado em casa, e meu Pairesolveu tirar a coisa a limpo, me levando com ele ao colégio.Chamado pelo diretor, lá veio o marista, irmão Bicudo o chamá-vamos, trazendo na mão um burro de Virgílio em francês, igualzi-nho ao que me servira na cola. Meio que turtuviei mas foi um na-da. Disse arrogante:

                - Como que o senhor prova que eu colei?!

               Irmão Bicudo nem me olhou. Abriu o burro quase na cara de Papai, tremia de raiva:

               - Seu menino traduz latim muito bem!... mas não sabetraduzir francês!

               Papai ficou pálido, coitado. Arrancou:

                - Seu padre me desculpe.

               Não falou mais nada. Durante a volta era aquele mutismo, nãotrocou sequer um olhar comigo. Foi esplêndido mas quando ocondutor veio cobrar as passagens no bonde. Meu Pai tirou com toda a naturalidade os níqueis do bolsinho mas de repente ficouolhando muito o dinheiro, parado, olhando os níqueis, perdido emreflexões inescrutáveis. Parecia decidir da minha vida, ouvi, che-
guei a ouvir ele dizendo “Não pago a passagem desse menino”.
               Mas afinal pagou.

               [...]

               (Mario de Andrade. "FREDERICO PACIÊNCIA", in Contos Novos).

Com o tempo o contemporâneo virou retrô


                Desde que fizeram revolução na França, vivemos no que os estudiosos chamam Idade Contemporânea. Já tivemos duas guerras europeias que de mundiais só tinham a capacidade de matar; revolucionários ditadores e ditadores revolucionários; mulheres que morreram pela liberdade e algumas que se tornaram adeptas da prática de liberar estranhamente demasiado. Inventamos tecnologias que nos permitem tanto, mas permitimos que façam patentes das nossas cabeças.

                Na minha leiga mente provinciana ainda não compreendi se este período em que vivemos só será contemporâneo até que decidam seu fim e a ele deem novo nome.  A Idade Moderna é a que já passou. Já deixamos de ser modernos e aonde vamos? O que será feito de nós quando os prefixos que procrastinam as mudanças – pós ultra neo super – acabarem? Estaremos perdidos, pois o que deixa de ser moderno, deixa de ser desejado.

                “Tudo é descartável”. Essa é máxima do século. Se você for cria da internet (gente que mal tem duas décadas), estranhará, assim como eu, hábitos de pessoas mais velhas. Costumes abandonados, como levar um sapato para o conserto, uma roupa ou até uma panela. Hoje em dia não consertamos nem televisões ou computadores: o frenético avanço tecnológico nos compele a comprar o novo, porque tudo tem seu prazo de validade e ele é curto e ele é fatal.

                A música é um dos aspectos mais interessantes para evidenciar esse fenômeno previsto em qualquer uma das duas clássicas distopias da literatura (1984 e Admirável mundo novo). Todas as canções são breves; não só em duração, apesar de também nela; perduram por períodos curtíssimos, que nem aquelas que só vivem durante um carnaval. Descartáveis. São quase todas tão vazias, falam de estar solteiro e não mais estar, de beber e fazer festa, de sexo e mulheres promíscuas. Perdoem o meu discurso se ele parecer puritano demais, mas há de se convir que a promiscuidade por aí é intensa!

                Não estou me isentando de culpa e colocando tudo na conta do “sistema” ou da “sociedade”, essa lorota já morreu de velha. Como eu já disse alguma vez antes, a culpa é nossa, é minha. Se é mais vantajoso comprar um novo produto descartável do que fazer uma visita ao “misterioso lugar onde se fazem consertos”, por que alguém faria essa escolha de forma diferente?

Um fim de mundo que começou num vaso de flor

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Por que um cristal?
A textura. Ele é liso como céu. Ele é frio como céu. Você olha dentro dele e pensa ver o céu.
Um céu bem pequeno.
Ninguém sabe quantos mundos têm aí dentro.
Eu acho que tem como saber o número.
Exatamente?
É.
Como?
Contando seu nível de loucura.
E como é que conta um nível de loucura?

Pés de Galinha


                A impiedosa estrada que é o tempo, que se esfarela logo atrás da sola do pé, inviabilizando uma possível volta. É o tic-tac impávido que não para nem volta, não desacelera, não tem piedade. Por definição científica, o segundo dura 9'192'631'770 períodos da radiação do átomo de césio 133; para nós, homens ordinários que mal sabemos definir um período, os segundos são as pequenas parcelas de um pagamento em que a moeda é nossa vida.
                Há muitos que se assombram mais com a velhice decrépita do que com a morte, há muitos que se assombram com qualquer hipótese de velhice.
                A gradual perda das funções motoras, o desbotar dos cabelos, a sua eventual queda, a perda do apetite sexual, o desfazer da beleza, a fragilidade da saúde, a menor agilidade para raciocínios…
                A velhice trás consigo o acalento das memórias e o contentamento em ser feliz com elas. A ideia gradual de estar em um mundo que, por mais adaptado que você esteja, não é mais o seu. Um mundo que seguiu adiante com pessoas, concepções, tecnologias e ideias novas; muito provavelmente bastante diferente das suas.
                O olhar cúmplice destinado à companheira, que você ainda ama, mas de forma bem diferente, talvez mais nobre, mas menos acalorada. Veem-se como companheiros que viveram provavelmente as melhores experiências, mas que agora tinham de se contentar com isso. Contempla-se um porta-retratos mais antigo e percebe-se que aquele garoto vigoroso e que transparecia vida agora já estava surrado pelo tempo, e aquela garota de corpo escultural e sorriso radiante estava mais recatada e serena.
                Os jantares aos domingos; a rotina médica; os óculos de grau cada vez mais severos; as mãos cada vez mais trêmulas; as rodas de carteado... O sorriso cansado.
                O que a velhice tem de trágica também tem de bela. Pois aqueles que até ela chegaram, e não é um percurso fácil, podem dizer: “EU CHEGUEI ATÉ AQUI”. Sim, chegou. Você viu o que muitos não conseguiram, testemunhou o que muitos da sua juventude talvez julgassem impossível. Você ainda vive, ainda que sem tamanha intensidade, consegue arrancar alegria das coisas mais simples, que agora você percebe serem tão significativas, e não é disso que se trata a vida?
                Você contempla os seus erros passados e ri de alguns, se envergonha profundamente de outros, esconde alguns tantos... Afinal, apesar da cabeleira branca que confere um respeito quase beato à sua pessoa, você é humano, e sendo humano já foi jovem, e se já foi jovem já fez merda.
                E no final, quando a senilidade se mostra bastante agravada, e você só é uma sombra, um esboço de outrora, é que entende que a vida tem de ser assim e não haveria de ser de outra maneira, e entende também o quão pífios e insensatos são todos esses dramas acerca da velhice e da morte, que não são nada mais, que mais uma parte da tão valorizada vida.