A Perspectiva Caótica


            É o espetáculo, o culto ao absurdo e ao essencialmente pejorativo, de modo que a humanidade consegue se deparar com a própria miséria; de ordens espirituais, estruturais, orgânicas e diversas outras; e continua com o riso dos loucos, dos psicologicamente desequilibrados. E os intelectuais elitizam o “saber”; apreciam mantê-lo assim para continuarem nas camadas superiores e de lá dizerem “nós é que sabemos”. E o mundo segue errante, sem comando, sem propósito. E há a tragicômica paisagem política, quase dantesca, quase kafkiana, e nós, com uma faca no pescoço chamada política, insistimos em dizer que ela não tem nada que ver conosco.
                E aceitamos ou nos fazemos de cegos para o absurdo que é a lógica de produção do mundo em que vivemos, que suga tudo, que absorve tudo como um gigantesco buraco negro. E damos o nó na forca que a nós pertence com um sorriso amarelo na boca e concepções de esperteza na mente, espertos? Isso sim é motivo de graça, talvez não haja ser mais burro na história da Terra. E podem os antropocêntricos argumentarem que é um disparate eu proferir tal discurso, “nós somos dotados de razão e de capacidades intelectuais singulares” diriam eles; e eu pergunto, se somos nós os únicos capazes de feitos intelectuais tão sofisticados, como é que os utilizamos para fins tão torpes e autodestrutivos?
                Engolimos as terras em quanto nossas calças se mancham com o gozo do êxtase pelo supérfluo, pelo autocorruptor. Somos, em essência, todos masoquistas, somos todos abutres da própria carcaça pútrida; somos isso. E nos consolamos com a promessa de vidas no além morte, mas o curioso é a hipocrisia e a maquiavelice com que tratamos as premissas religiosas. Se deus existe, estamos cagando nele todo santo dia. A estupidez humana parece não ter limites, e nessa estupidez se alicerça o sadismo, o modo com que tratamos os animais, a natureza, a própria vida e os semelhantes. Somos confrontados com a miséria e não sentimos pena ou somos movidos por alguma propulsão altruísta; sentimos asco, sentimos nojo, sentimos vontade de virar a cabeça para o outro lado, e depois fingimos todos sermos cidadãos de bem. É a hipocrisia, um dos maiores males deste ser racional que somos. Capazes de feitos tão grandiosos, somente passíveis de comparação com o monumental fracasso em suas aplicações.
                E educamos nossos filhos nessa lógica sistêmica de aparentar estar sob as ordens. É a lógica que atribui mérito ao ladrão que nunca é pego, somos nós nada mais que isso.
                E somos nós
                E somos nada
                E nos convencemos de que somos tudo
                E não percebemos que se somos tudo
                Somos tudo de maléfico, de pior.
                Somos o Horror.

Um comentário:

  1. Será que a humanidade se salvará da própria desgraça? Não querendo ser pessimista, mas sendo, o homem morrerá afogado no lago tóxico e espumante que ele produziu.

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