Pós-zumbis 4ª Temporada (8)


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            E como água os dias vão. “Como água” é um modo impreciso de definição. Como uma cascata. Os dias passam, a campanha prossegue. Após aquele descuido relacionado à tevê, na qual Fronrel teve uma leve brecha para acompanhar fatos do mundo exterior, só ocorreu semelhante caso uma única vez. Foi por volta do mês quarto da campanha, no rádio, desta vez. No qual teve um ligeiro trecho de uma notícia sobre uma revolta que estourara no centro da cidade; não soube o que reivindicavam ou contra o que lutavam, mas ficou satisfeito. As pessoas pareciam estar despertando.
                E sim, o leitor não leu errado. Passaram-se exatos quatro meses desde o início da campanha. E agora pularemos mais dois. E alguns podem dizer “nossa, mas o narrador está omitindo muito, está cortando muitos trechos da história”. E sim, talvez eu esteja, mas digo-lhes, faço unicamente pensado em vocês, leitores. O que se deu nestes seis meses foi uma sucessão de mais do mesmo em todos os aspectos. Nada além da já conhecida rotina de Fronrel: Estúdio, cela, revisão dos discursos, expectativas e, vez ou outra, algum chamado para um ligeiro interrogatório com o Juiz... nada além, nada que valha prestação de contas minuciosa.
                Enfim, basta dizer que ainda voltaremos no passado uma única vez, afinal, creio que todos querem saber o que sucedeu ao outro núcleo da história: R., Camaleão, Albinati e Linda. Mas não o faremos agora.

Complexo de Épico
                Fronrel acorda. Era véspera da eleição. Nunca se sentira tão confiante. Por algum motivo nesses últimos dias, os polícias apareciam-lhe na cela demasiado assustados, demasiado tensos. À sua frente: Rádio, recorte do jornal da semana anterior e a tevê. Dois meses atrás Fronrel desesperançadamente perguntou aos polícias se não poderiam lhe trazer algum livro, qualquer um que fosse. Disseram-lhe que livros eram, nestes últimos tempos, artigos bastante marginalizados e caros, de modo que seria improvável um preso ter acesso a eles se já boa parte da população nem mais lhes fazia menção. Pediu-lhes então algum filme ou cd para que matasse o tempo. Trouxeram-lhe vários de ambos. Nenhum que lhe apetecesse. Apenas filmes pelos quais nunca tivera gozo e músicas verdadeiramente pedantes. Perguntou-lhes se não teriam algo de uma certa banda chamada Pink Floyd, ou filmes menos... “epiléticos” (este foi o termo usado, referindo-se Fronrel, claro está, à quantidade excessiva de efeitos especiais e cenas de cortes rápidos e diálogos praticamente inexistentes), disseram-lhe que, por nada a que se dedicar, tiveram a bondade de pegar os filmes mais repercutidos, os blockbusters do momento, mas que era só lhes passar os nomes dos filmes e das bandas que tentariam encontrá-los.
                Fronrel sentiu leve desconfiança daquilo tudo. Estavam demasiado mansos. Demasiado condescendentes. Fronrel fica em silêncio por um instante, diz que pensará em algo e depois lhes passa os nomes.
                O dia passa.
                A porta se abre. Entram dois guardas.
                _ Fronrel, o senhor poderia, por favor, acompanhar-nos? O juiz que ter uma palavra com o senhor.
                Fronrel estava levemente atordoado, nunca antes foi tratado com tamanha cortesia por seus carcereiros.
                _ Sim, claro. – Disse Fronrel, ainda meio receoso.
                Passou por toda a extensão do prédio, chegou àquela conhecida sala. As janelas estavam fechadas, as luzes acesas, uma tevê estava ligada. À chegada de Fronrel o Juiz desliga-a, mas Fronrel ainda pode ver de relance que se tratava de uma reportagem acerca de algum protesto. Fronrel sorri levemente. A fronte do Juiz estava um tanto severa, rija.
                _ Olá, Juiz. – diz Fronrel, com certo tom de ironia.
                _ Olá, mas aqui pode me chamar de Governante.
                _ Você é Juiz, Governante e ainda por cima é rico... é realmente um homem memorável.
                _ No mundo de hoje basta ser rico, o restante é consequência direta. O dinheiro pode facilmente subverter-se em poder. E o pode de infinitas formas. Existiram aqueles, antigamente, que governando ou detendo os poderes de julgue vislumbravam os grandes volumes financeiros. Hoje se sabe que o caminho inverso também funciona muito bem e tem certas vantagens consideráveis em relação ao primeiro.
                _ Sofisticado.
                _ Somos os titeriteiros. Nem mesmo os políticos estão acima de nós.
                _ É um assunto realmente fascinante, mas creio que não fui chamado para aprender os meandros da manifestação do poder, correto?
                _ De fato. O que quero tratar é substancialmente mais delicado, mas também é certamente algo de seu interesse.
                _ Ouço.
                _ Chamei-o para dar-lhe a chance de desistir da campanha.
                Por um momento o silêncio. Agora Fronrel entendia a bajulação dos polícias ao virem chamar-lhe. Dá um leve sorriso, mas faz questão de mantê-lo arqueado por um tempo considerável, para que assim o Governador tenha chance de apreciá-lo em todo seu declarar de vitória.
                _ E o que eu ganharia com isso?
                _ Total anistia.
                _ Para mim e meus amigos?
                Fronrel percebe um leve erguer de sobrancelhas no Governador, mas não entende o reflexo.
                _ A todos.
                _ Inclusive para o Monquei?
                Novamente o governador muda rapidamente a expressão facial.
                _ Sim.
                _ E porque raios me propõe isso agora?
                O governador engole seco.
                _ Porque sou bom.
                _ Falso. Propõe-me porque tem medo da derrota. Porque sabe que existe chance real e crescente de que eu ganhe a eleição.
                _ Se desistir será agraciado não só com a anistia, mas também com generosos auxílios financeiros e estruturais. Terá uma vida somente equiparável a dos reis medievais, será senhor, será mandante, terá voz perante as grandes decisões.
                _ Estou inclinado à recusa.
                _ ENTENDA! – Exalta-se o Governador. – Tudo que temos feito, todo o sacrifício, todas as medidas drásticas, nada disso foi feito sem reflexão ou pesar. Acha que somos sádicos? O fizemos por ser necessário. Dê tempo às ações e verá que o nosso ideal de mundo será concretizado em um mundo justo e nivelado. Verá como seus atos rebeldes, embora justificáveis, só foram executados pois não lhe era possibilitada a total visão do ideal.
                _ Seu mundo é podre, causa nojo, ojeriza, me da repulsa. E mesmo que seu ideal fosse de fato este, nota-se que suas ações, vis-à-vis seus planos, foram corrompidas, você se corrompeu. Já é hora de você cair.
                _ Dar-lhe-ei o dia para pensar.
                _ Não se faz necessário, vejo-te amanhã durante a apuração.
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Ps: É QUASE CERTO QUE O FINAL SAIA AMANHÃ. QUASE!

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