Amor, como se fosse fácil


Amor é repetido, banal, alienado; é das classes rasas, dos obtusos, das desesperadas. Amor acaba assim, sem ver, e começa antes da meia noite, antes da puberdade, antes do filme terminar. Amor é de mentira quase sempre, mas nem por isso perde a credibilidade. Amor é hiperbólico, pleonástico, irônico e de transitividade duvidosa. Amor é vocabulário chulo na boca de maria e eloquência rebuscada na de hipócrates.

Amor dos outros cansa, dá fadiga de ver, causa algo que a gente não admite ser inveja. Amor de todos os tipos deveria ser tratado na primeira pessoa (do plural, veja bem): os pronomes os verbos os gemidos nossos. Amor é anagrama notável, já que mora em roma um ramo do meu amor.

Amor enche a barriga, sim, quando se satisfaz, e os pulmões quando se grita e os olhos quando se contempla e as mãos quando se acaricia. Amor mata a sede e cura a malária, pavimenta as estradas e rega as plantas. Amor é causa mortis, modus operandi e et caetera. Amor é mulher nova, bonita e carinhosa. Amor é pusilânime, é herói, é proletário e aristocrata.

Amor é roteiro barato, é título de produção de baixo orçamento. Amor é zoomórfico, antropofágico, necrofílico e pseudocelomado. Amor é proposta de campanha, é defesa de réu confesso. Amor é o fim do mundo, é o big bang, começo do universo. Amor sussurra o tempo todo e só berra de vez em quando.

Amor é aquela pessoa sobre quem mais fofocam na família. Amor tem graus de parentesco dos mais variados. Amor não aparece na previsão do tempo, só no boletim médico e no obituário. Amor explora, navega, encontra, trafica, exaure. Amor põe pra dormir e cobre de madrugada, faz leite quente e download de filmes melodramáticos.

Amor é ouvir john lennon completamente sozinho, assistir moulin rouge, ler caio fernando de abreu.

Amor às vezes nem cabe numa palavra tão pequenininha assim: amor, como se fosse fácil.

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