O Estado Laico


                E se formos assistir uma votação na câmara dos vereadores, deputados; federais ou estaduais; ou no senado, nos depararemos com a mesma figura: Uma cruz enorme de madeira ao fundo da cadeira dos presidentes de sessão, com um grande cristo fixado nela. E se pegarmos em uma das notas de circulam como moeda corrente em nosso país, teremos em um dos cantos inferiores a frase: “Deus seja louvado”. E se olharmos na história brasileira, veremos que o Brasil é declarado estado laico desde a formação da república federativa do Brasil, com igualdade de direitos entre toda e qualquer manifestação de credo religioso como prevê a constituição de 1891.
                Um evento que tem intermitentemente ocorrido no poder legislativo me traz alguns parágrafos deste texto, as ações da bancada evangélica.
                Pegarei o caso mais drástico para exemplificar, o aborto. A bancada evangélica se põe veementemente contra a legalização do aborto, mas em sua grande maioria; como qualquer um que assiste a TV SENADO pôde perceber; não o fazem por terem em mãos um estudo sociocultural e socioeconômico. Colocam-se contra o aborto por este ser contra as “leis de Deus”, a “moral” e os “bons costumes da família”. Não duvido que possa ser, eles podem estar certos, e se o estado é laico eles têm todo direito de manifestar seu credo. Mas se crer em Deus é uma questão de Fé, se aderir às renúncias que a bíblia prega é uma questão de livre-arbítrio, então porque legislar para isso? Para quê obstaculizar um projeto de lei se este não obriga ninguém a abortar? Se eles apenas permite, e com grandes ressalvas, o aborto? Eles têm medo de uma revelia por parte dos fiéis? Se uma pessoa é realmente convicta de sua fé, não é o aborto ser permitido que vai fazê-la mudar de ideia. Veja o caso do álcool, bebidas alcoólicas são permitidas, mas existe uma grande quantidade de evangélicos que não bebem justamente por crerem que não devem. Mas é aqui que quero chegar: Se o estado é laico, porque é que eu tenho de me sujeitar a uma doutrina religiosa que está a tentar se impor por meio da lei? É um absurdo dos maiores, mas quando se fala de política e religião, esperar que absurdo seja um exceção é ser ingênuo. Porque é, se a minha descrença e a crença deles têm o mesmo valor, que eu não posso ter o DIREITO de desobedecer a Bíblia? Eu é que vá me entender com Deus, não cabe a eles o poder de julgue.
                Enfim, você não vê uma imagem do exu caveira atrás de um presidente de sessão. Mas... espere um pouco: A legislação não abarca os seguidores do candomblé também? “Sim, abarca”. E ela abarca os cristãos também? “Sim, abarca”. E ela abarca os dois igualmente? “Sim, diz que ambos têm iguais direitos e iguais deveres”. E porque é então que temos Deus(falo do Deus cristão) e cristo escritos e reproduzidos em quase todos os órgãos e símbolos estatais e não temos o exu ou a pomba gira? Silêncio.
                Estado laico pra valer é absolutamente improvável, devemos isso a anos de cristianismo e a muito dinheiro que certas frentes religiosas têm. A verdade é que democracia genuína não existe de fato, não haver estado laico é só um desdobramento disso. Entenda, não concordar com a igreja cristã; que é a majoritária; é não concordar com os valores cristãos, e não concordar com estes é ser pessoa de má índole, de má conduta, um desviado. Veja só, eu não creio em Deus, mas acho os ensinamentos de cristo e determinadas atitudes deste (como acabar com uma feira na frente do tempo – leia este meu texto aqui) fascinantes, eu concordo com grande parte dos valores cristãos, mas não preciso me dizer católico ou protestante para isso. Eu não preciso ficar dando dinheiro para padres ou pastores e aceitar um livro com tantos absurdos como a bíblia para ser bom.
                “A Igreja não está interessada nas almas, estão interessada nos corpos, nos corpos e seus apetites, nos corpos e seus anseios”. Saramago disse esta frase em uma de suas polêmicas entrevistas, e ela reflete bem o que eu penso acerca das instituições religiosas: essas que têm horário na televisão, que fazem espetáculo com seus cultos, que fazem merchandising em pleno horário de culto e que descaradamente exploram seus fieis, isso tem um nome: chama-se Indústria. A igreja segue a mesma lógica, e eu já disse isso em outros textos: Você cria uma necessidade no público, faz essa necessidade tornar-se status ou algo indispensável no concernente à pressão social, argumenta no intuito de mostrar que o seu produto é melhor que os demais e cria meios de torná-lo atrativo. É o que a coca-cola faz, o Mc Donald’s, a Honda, as Igrejas, etc. Fazem.
                Igrejas, vocês não são a verdade, são interpretações. Nunca me opus a nenhum tipo de credo religioso. Existem aqueles que precisam da religião, existem aqueles que acreditam nelas, não os desmereço, só não sou um deles. Só clamo por um favor, àqueles que acreditam: Deem uma olhada no que a sua igreja faz antes de terem a pretensão de sair normatizando como as pessoas ao seu redor devem ser ou como o estado deve se portar, principalmente com outros crentes de religiões minoritárias. Lembre-se que, TALVEZ, você seja da religião que é apenas porque seus familiares o são, ou porque esta é a religião predominante em seu estado Nação. TALVEZ, se você tivesse nascido na Índia seria hinduísta, não um monoteísta. E se você quiser debater algum destes temas, os comentários estão ai embaixo pra essas coisas.

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