O Facebook me emburrece ou sou burro por conta própria?



“Como no Big Brother, existe uma maneira muito simples de a gente parecer mais interessante do que de fato é diante de uma multidão. Basta criar uma conta no Facebook e manifestar desprezo por qualquer coisa que seja popular. Como o Big Brother ou o Orkut.”

(O trecho acima é de Matheus Pichonelli, cronista da Carta Capital. O autor elabora muito bem um texto cru e exatíssimo. )


Nunca foi tão fácil manufaturar um perfil bacana e aceitável para si quanto na ‘era da sociabilização digital’. E só dizer que odeia algumas coisas que têm apelo de massa e xingar uma ou outra figura popular. E o sujeito nem precisa criar nada, nem um período de meia oração que seja: clique em compartilhar.

Na internet, todo mundo odeia a corrupção, todo mundo tem aversão ao atual governo do Brasil. Ninguém precisa agir, é só compartilhar. Na internet, todo mundo sabe fazer citações literárias refinadas e interessantes. Clarice Lispector é, provavelmente, a escritora com maior criação literária póstuma (escreva quaisquer três palavras aleatórias e ponha na conta da Clarice!).

As pessoas sempre querem parecer intelectualizadas e extremamente críticas. Cidadão nem lembra em quem votou no primeiro turno da última eleição presidencial e tem a indecência de reclamar dos políticos que não estão nem aí pro povo.

Todos odeiam o Justin Bieber, o Luan Santana, o Michel Teló e o Restart. Todos querem agredi-los, querem vê-los mortos precocemente. Tudo isso enquanto ouvem Catra e as Empreguetes.

A globo, pobre coitada, é o bode expiatório da vez (ou de sempre, sei lá). Ela é massificadora, alienadora, manipuladora, aliada aos bandidos da política e escrota mesmo. Mas todo mundo vê Avenida Brasil e compartilha o diabo a quatro sobre Carminha e Cia.

As pessoas querem parecer profundas e críticas, mas pra isso se uniformizam outra vez ainda. Querem se tornar contra-corrente compartilhando as malditas correntes. Querem ser únicas e revoltadas criando um perfil eletrônico de aparências.

Que eles façam o que lhes vier à cabeça. Mas que façam por querer de verdade, para que as coisas tenham fim em si mesmas. Que não vivam uma vida que é mero teatro para olhos alheios. Não serei o poeta de um mundo caduco...

Um comentário:

  1. Eugênio, adorei este texto. Eu escrevi um texto falando que as pessoas não estão aproveitando as redes sociais como deveriam.Os "politizados" poderiam estar tentando mudar a mentalidade do povo brasileiro. Mas parece que todos eles são comprados pelos partidos políticos, para fazer "enxame". As pessoas só sabem postar coisinhas "engraçadas". Vou compartilhar o seu texto. Abraços

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