Desde que o ser humano se desvinculou do Éden, ele vive tendo como propósito, buscar a Felicidade. Mas esta parece escorregadia, pois toda vez em que esta é alcançada a ambição daquele a empurra para um "lugar" que necessita um maior alcance, com uma maior dificuldade de acesso, de modo que nos colocamos numa corrida sem fim.
Não é segredo nem mistério também que procuramos sempre facilitar as coisas e tentar percorrer os caminhos mais fáceis da vida, e um deles é escolher o "prazer" a "felicidades". Não que não haja prazer na felicidade, ou que sejam conceitos totalmente dispersos, mas o "prazer" é apenas uma lapso da Felicidade e por isto consegue existir de for mais autônoma, enquanto a Felicidade por se só é tão complexamente simples que não poderia existir sem todas suas partes (como o Prazer). Mas não irei a muito discutir a simplicidade da Felicidade. Talvez uma outra hora.
Onde quero chegar, é que o ser humano costuma buscar os caminhos do prazer para se satisfazer e acaba por confundir tal sentimento de satisfação momentânea como felicidade, fazendo com que ache que uma vida feliz é uma que tenha prazeres cada vez mais intensos, já que os níveis de prazeres têm que serem superados.
'Quer descobrir qual é o verdadeiro caráter de uma pessoa? Dê poder a ela.' Creio que já devem ter ouvido falar nisso; E não é para menos. O ser humano, com sua ambição e soberba, busca, durante sua jornada de vida, adquirir cada vez mais poder (a palavra-chave deste texto talvez seja Poder). O que o cerca e o motiva é nada mais que métodos para se conseguir poder. Poder para ter seus desejos realizados. Para poder fazer com que você alcance prazeres, e, como muitas das vezes, para satisfazer o 'ego'.
E o que é o dinheiro se não uma forma de quantizar o nível de poder que você pode exercer diante a sociedade? E é por isto que é necessário dar valor as coisas. Por isto que o capitalismo deu tão certo. Pois a ambição do homem precisa ser saciada, nem que seja na mera existência da possibilidade. Não estamos prontos ainda para aceitarmos que somos todos e quais e muito menos nos tratarmos como iguais.
se a via-crucis virou circo, estou aqui
Nunca
consegui dar cambalhotas.
Invejava
as outras crianças que conseguiam dar cambalhotas, cresci mais e invejei as pessoas que conseguiam escrever histórias bonitas, cresci mais e invejo
as pessoas que não cresceram tanto assim. Agora que não cresço, só invejo.
Acabou-se a pilha dos lábios, ou: Os ocos ecos da minha voz
Contemplo o meio; nada me prende a atenção, nada me
desperta vontade de me esforçar. Nada parece ter sabor. Ouço uma melancólica
música, sinto a mais profunda tristeza, talvez nem mesmo o jovem Werther tenha
sentido igual. Mas sou incapaz de chorar, não verto uma única gota salgada de
lágrima sequer. Há um gato se debatendo na minha garganta, tão violento que me
faz pigarrear sangue... ele não desce, tampouco sobe; desde certo tempo ele está aqui, nunca o
vomitei, nunca o digeri... ele permanece.
Teria de estudar agora, mas nem para isso tenho
ânimo; até teria-lo, não fosse a inutilidade do ato; não é que não seja capaz
de entender as complexas teorias, não é que não fosse capaz de palestrar sobre
elas por uma centena de dias. Mas: Qual o sentido, qual a razão, para quê,
exatamente?
Tenho muitos do meu lado, diria que quase todos;
todos me têm em alta conta, todos sorriem quando chego, todos confabulam
comigo, mas nenhum me leva a sério, sou o tipo ideal que ninguém quer senão
para um eventual apontamento ou comentário, para rirem dos absurdos que falo e saírem
dizendo “que ideias engraçadas aquele tipo tem, não?”. Então para quê? Vontade
mesmo eu tinha era de queimar tudo, atear fogo ao circo e sair andando.
Sou o bobo da corte, a requerida comédia; bom ter-me
à mesa, ouvir-me tratar dos dilemas universais e particulares, dos mais simples
aos mais complexos; mas ninguém me escuta verdadeiramente, é apenas entreter...
E o pior é ter de manter a pose neoliberal de tolerância a determinadas
opiniões por própria falha minha de querer agradar a todos, não por ser
compreensivo, mas apenas para continuar sendo bem visto. Quando sei que o
correto seria vociferar a todos que deixassem a covardia e a mesquinhez para a
puta velha e que, pelo amor de deus, parassem ao menos por um segundo para tentarem
algo verdadeiro.
O pior é saber que mesmo já tendo-me mostrado
incontáveis vezes com a razão, de nada adianta, é senão acaso, nada mais. Não
sou legitimado nem por uma fama estúpida para ter razão em algo, tão pouco por
algum título, ou por alguma quantia de cédulas em minha carteira; nada além do argumento
me legitima, e este, ultimamente, não tem bastado.
Essa história não termina como a do Werther; não
cesso minha vida em um acesso de tristeza indomável. Não posso dizer certamente
como termine, mas pode ser que termine com o solver de alguns dos meus sonhos e
aspirações; pois Tristeza: um dos maiores solventes das vontades nossas.
O que escrever?
Sozinho, com o computador à
frente, tentava escrever algo decente, como nos velhos tempos em que era apenas
ver a página em branco e as ideias floresciam, os contos tomavam vida própria.
A chuva leve caia lá fora e de
vez em quando uma brisa fria, vinda da janela aberta, agitava-lhe os cabelos e o fazia arrepiar . Pensou em se levantar
para fechá-la, mas não valia o trabalho. “quem sabe esse som de água caindo não
me inspira”, estava se agarrando a qualquer fiapo de esperança que o fizesse
voltar aos velhos tempos de criatividade.
A vida andava complicada, não se
sentia mais útil, não saía mais nada daquela cabeça além do cabelo desgrenhado
de quem anda desistindo até mesmo dos cuidados pessoais.
Continuou a fitar a tela em
branco, começou a pensar que devia trazer a cafeteira para a mesa de trabalho, para não ficar
levantando para buscar o café, e perder a concentração. Mas por outro lado,
buscar o café era o único exercício físico que fazia, se é que podia ser
chamado de exercício.
O celular tocou, ele olhou o
número, era seu agente... não estava com paciência para falsas palavras de
estímulo, especialmente com a fome que estava, e a preguiça de descer até a
cozinha para fazer um sanduíche, pensou se não devia trazer também a geladeira para o escritório...
Paul, o agente, continuava
insistindo... enviou-lhe uma mensagem de
texto “paul, estou escrevendo, não atrapalhe meu momento criativo”, o celular
parou de chamar e ele voltou o olhar para a tela do computador novamente.
Anoiteceu e a fome finalmente o
fez se levantar para comer algo, a geladeira estava cheia de frutas e verduras,
uma tentativa da família, provavelmente, de mantê-lo saudável, pelo menos
fisicamente.
Após comer, chegou a cogitar a
ideia de tomar um banho antes de dormir, sentiu seu próprio cheiro, não estava
tão mal, adiou o banho para amanhã.
Eram nove horas quando acordou,
tomou um copo de leite com café, espreguiçou-se e se sentou á mesa, ligou o
computador e achou que tinha uma ideia, poderia escrever sobre um cara que não
tinha a mínima ideia sobre o que escrever...
Um país rico é um país sem gente rica
O Estado está
aqui para nos livrar do “estado” bárbaro e selvagem, aquele de lobos, e nos
trazer para a elevação de espírito e pensamento edificador. Sim? Se não, onde
reside a inverdade na afirmação anterior? O Estado é fruto e não causa de um
pensamento edificador? Ele está aqui simplesmente para nos trazer um diferente
estado de barbárie e selvageria, mas este segundo velado sob a bandeira da
democracia?
Talvez eu não
seja capaz de responder a essas perguntas, que são ardilosas e de ordem muito
filosófica para o meu modesto e símio pensar. Só sei que os homens que compõem
os poderes do Estado são figuras peculiares e dignas de reflexão. Os meios são
corruptíveis, as possibilidades são tentadoras e transformadoras; mas os
homens, estes homens que estão no poder, estes são homens assim como nós.
O que se passa
quando um sujeito pobre, minimamente assalariado, iletrado, sem suporte de
saúde e com meia dúzia de filhos para criar vota no latifundiário, de família
tradicionalmente abastada e dono de metade das terras da sua cidade? Uma hipótese
é a de que ele realmente acredita que este fazendeiro que demonstra tamanha
prosperidade no sistema capitalista tenha capacidade para gerir uma cidade e
ela também fazer próspera. Outra é a de que ele crê que o poder não deve se
dissociar da riqueza. E uma terceira é a de que esse homem pobre vota sem ter o
mínimo controle sobre aquilo que está fazendo, ou seja, não sabe como, por que
e nem em quem está votando.
Já os que
estão no poder têm, sim, consciência de como funciona o voto. Eles sabem os
meios, não de fazer política, mas de produzir uma imagem política: são profissionais
políticos. E justamente por isso se perpetuam e até deixam herdeiros. Mas,
ainda assim, o interessante aqui é constatar que nem esses profissionais
políticos estão no topo da “cadeia alimentar”; não tomam as decisões finais e
nem têm ciência de todos os fatos.
O capital é
que movimenta a alma. Dói, dilacera, mas é uma verdade que deve ser aceita
antes que consuma a vista, as ligações nervosas e até as juntas dos membros.
Um movimento
que parece (só parece, pois os fatos não estão à minha disposição) estar sendo
aplicado contemporaneamente é o de manufaturar candidatos a eleições. Ainda
mais com o advento da “ficha limpa”, deve-se agora encontrar sujeitos idôneos,
imaculados. Homens com tais características não existem no mundo voraz da
política. Portanto, vemos cada vez mais artistas, pessoas populares e
fantasiadas ascendendo ao poder.
Um dos maiores
exemplos que me salta à mente é a excelentíssima senhora Presidente do país. Quem
seria ela não fosse o PT e o oportunismo continuista? Quem seria ela não fossem
as cirurgias plásticas e as diversas aulas de oratória (demagogia)? Onde estaria
ela se os seus opositores fossem um tanto menos ridículos – e um tanto mais
manufaturados como ela?
Um país rico é
um país sem gente rica.
Pausa de 6 minutos
Comemoração da "Consciência Negra": apenas mais uma forma de segregação da humanidade (racismo)
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Compreensão sobre o pedido de laicidade do Estado (retirada dos dizeres "Deus seja louvado" das células de Reais)
Satanistas poderiam pedir os escritos "Satã seja venerado" no seu dinheiro...
extremamente alto e incrivelmente perto
"Outra
coisa boa seria se eu pudesse treinar meu ânus para falar quando eu peidasse.
Se eu quisesse ser extremamente hilário, eu o treinaria para dizer 'Não fui
eu!', toda vez que soltasse um peido incrivelmente forte."
"E que
tal microfones pequenos? E se todo mundo os engolisse e eles tocassem o som de
nossos corações em pequenos amplificadores que poderiam ficar nos bolsos de nossos
macacões? Quando andasse de skate na rua, à noite, você poderia escutar os batimentos
cardíacos das outras pessoas e elas poderiam escutar os seus, tipo um sonar. O
estranho seria se o coração das pessoas começasse a bater ao mesmo tempo, como
as mulheres que moram juntos têm seus períodos menstruais ao mesmo tempo, que é
uma coisa que eu sei, mas não fazia questão nenhuma de saber. Seria muito estranho,
com exceção do lugar no hospital onde os bebês nascem, que soaria como um
candelabro de cristal em uma casa flutuante antes que os bebês tivessem tempo
de alinhar seus batimentos. E a linha de chegada da Maratona de Nova York
soaria como uma guerra."
"O
fascinante é que eu li em National Geographic que há mais pessoas vivas agora
do que todas as que morreram na história da humanidade. Em outras palavras, se
todo mundo quisesse interpretar Hamlet ao mesmo tempo, não seria possível, pois
não há caveiras suficientes!"
"Na
verdade, se as limusines fossem extremamente compridas, elas não precisariam de
motoristas. Você poderia simplesmente entrar no banco traseiro, caminhar pela
limusine e depois descer pelo banco da frente, que ficaria onde você precisava
ir. Agora que parei para pensar nisso, eles podiam fazer uma limusine
incrivelmente longa que tivesse o banco traseiro na VG da sua mãe e o banco
da frente no seu mausoléu, e ela seria tão comprida quanto a sua vida."
Esse livro tá complicando minha vida,
cutucando meu cérebro, lá dentro. Lindo pra dedéu, assim como o filme, e além. Extremamente
alto e incrivelmente perto, de Jonathan Safran Foer, traduzido pelo ilustre
Daniel Galera, aquele que escreveu o Mãos de cavalo.
Ato I Cena 3
Ela acordou assustada, mesmo tendo sido acordada carinhosamente por seu marido. Se recuperou da fadiga causada pelo sonho não recordável e reparou que uma bandeja-de-café-da-manhã-na-cama estava a sua espera. Um "bom dia" grave, mas calmo, e acompanhado de um sorriso, fez seu tímpano vibrar.
Houve uma resposta sonolenta misturado ao ar de um bocejo incontido, e naquele momento ela percebeu que não conseguiria agir como numa atuação duma atriz de novela, que acordam sempre bem despertas, sem remelas nos olhos, de caras limpas, maquiadas e de bexigas vazias.
Pediu uma mal humorada licença, aparentemente repentina, deixando seu marido meio desconcertado; mas ele a compreendeu parcialmente, o suficiente para não se deixar abalar. Naquele momento ele refletiu sobre a situação e pensou que provavelmente ele também não conseguiria despertar e comer algo sem uma idinha rápida no banheiro.
Enquanto lavava o rosto, ela sentiu uma pontada de ódio daquela bandeja(-de-café-da-manhã-na-cama), que provavelmente teria sido comprada por um preço altíssimo (já que aquilo era um item de pouquíssima utilidade para o dia-a-dia e que só servia para satisfazer desejos luxuriosos) e seria usada naquela única ocasião para, praticamente, nunca mais ser retirada do lugar em que guardariam-na, ocupando um espaço inutilmente. "Afinal, que ocasião mesmo requeria uma bandeja daquela?". Terminou o que precisava fazer no banheiro e saiu forçando um pequeno sorriso no rosto.
— Que surpresa agradável amor. Pegou-me desprevenida. Há que devo a grande honra de um café-da-manhã na cama?
— É nosso aniversário de namoro, sua tolinha.
— Nossa. Esqueci completamente.
— Tudo bem. Sou eu quem sempre esqueço mesmo. Isto é para compensar todas as vezes que eu esqueci.
— Obrigada. Realmente não precisava. Este dia é tão seu quanto meu.
— Eu sei. Por isto mesmo que comprei, para hoje a noite, dois ingressos para vermos aquela peça teatral que tanto queríamos. Você vai ter que faltar o trabalho hoje por motivos de força maior..!
— E com prazer!
...
Caindo então no prazer, um nas caricias do outro, curtiram aquela manhã intensamente, se fartando, ambos, daquele café-da-manhã após ato. Só então ela reconheceu as maravilhas de ter uma bandeja de cama e teve a certeza de que não era um item para se ficar guardado juntando poeira. "Que se dane o preço que isto custou. Vai valer cada centavo!".
Já no anfiteatro, o relógio marcava o horário de início da peça indicado no ingresso, mas como de costume, as companhias tem o terrível hábito, nada educado, de esperar mais meia hora antes de realmente entrarem ao palco, sempre com a péssima desculpa de que é para esperar mais gente chegar. Se eles não vão ser pontuais, porque sua plateia deveria? Respeito gera respeito... Além do mais, eles não ganhariam nem menos nem mais por apresentarem na hora ou depois, já que os ingressos são comprados antecipadamente.
Todavia, tais pequenos inconvenientes nem chegaram a percepção daquele feliz casal, que para eles tudo estava perfeito. Exceto quando um sujeito, com o rosto encoberto, subiu ao palco e anunciou um assalto, mostrando que em cada porta de saída haviam mais de seus semelhantes aos pares. Isso por se só já era bastante pertubação para uma noite, porém não há situação que não possa ficar pior: Atrás da cortina um assistente de palco que está sendo abordado por um dos assaltantes derruba um candelabro, parte do cenário, na tapeçaria e começa um incêndio que avançava rapidamente e que era não contido (devido as ações limitadas que os reféns possuíam).
A falta de reação e a indecisão dos assaltantes diante do caso, fez chegar a situação de insustentabilidade do assalto. Ou todos ficariam presos ali repassando seus pertences enquanto eram cercados pelo fogo ou o assalto acabava e todos fugiriam do lugar. Neste momento, o sujeito que estava no palco respirou fundo e disse calmamente:
— Senhoras e senhores, obrigado por participar deste assalto mal sucedido. Por favor, levantasse e saiam em pânico e desordenadamente pelas saídas que estão atrás de vocês. Pois se algum momento da sua vida é para se deixar tomar por estes sentimentos, uma boa hora é agora. Tenham uma boa noite.
Por medo ou por choque para com relação aos acontecimentos, como numa psicologia reversa, todos, incrivelmente, se levantaram e saíram calma e ordenadamente em fila.
...Até, claro, o fogo afugentar os residentes do teatro e alguém gritar "RATOOOOO" de um lado e "BARATAAAA" do outro...
E assim o mundo reinou em caos e destruição até o cair do sono.
Houve uma resposta sonolenta misturado ao ar de um bocejo incontido, e naquele momento ela percebeu que não conseguiria agir como numa atuação duma atriz de novela, que acordam sempre bem despertas, sem remelas nos olhos, de caras limpas, maquiadas e de bexigas vazias.
Pediu uma mal humorada licença, aparentemente repentina, deixando seu marido meio desconcertado; mas ele a compreendeu parcialmente, o suficiente para não se deixar abalar. Naquele momento ele refletiu sobre a situação e pensou que provavelmente ele também não conseguiria despertar e comer algo sem uma idinha rápida no banheiro.
Enquanto lavava o rosto, ela sentiu uma pontada de ódio daquela bandeja(-de-café-da-manhã-na-cama), que provavelmente teria sido comprada por um preço altíssimo (já que aquilo era um item de pouquíssima utilidade para o dia-a-dia e que só servia para satisfazer desejos luxuriosos) e seria usada naquela única ocasião para, praticamente, nunca mais ser retirada do lugar em que guardariam-na, ocupando um espaço inutilmente. "Afinal, que ocasião mesmo requeria uma bandeja daquela?". Terminou o que precisava fazer no banheiro e saiu forçando um pequeno sorriso no rosto.
— Que surpresa agradável amor. Pegou-me desprevenida. Há que devo a grande honra de um café-da-manhã na cama?
— É nosso aniversário de namoro, sua tolinha.
— Nossa. Esqueci completamente.
— Tudo bem. Sou eu quem sempre esqueço mesmo. Isto é para compensar todas as vezes que eu esqueci.
— Obrigada. Realmente não precisava. Este dia é tão seu quanto meu.
— Eu sei. Por isto mesmo que comprei, para hoje a noite, dois ingressos para vermos aquela peça teatral que tanto queríamos. Você vai ter que faltar o trabalho hoje por motivos de força maior..!
— E com prazer!
...
Caindo então no prazer, um nas caricias do outro, curtiram aquela manhã intensamente, se fartando, ambos, daquele café-da-manhã após ato. Só então ela reconheceu as maravilhas de ter uma bandeja de cama e teve a certeza de que não era um item para se ficar guardado juntando poeira. "Que se dane o preço que isto custou. Vai valer cada centavo!".
Já no anfiteatro, o relógio marcava o horário de início da peça indicado no ingresso, mas como de costume, as companhias tem o terrível hábito, nada educado, de esperar mais meia hora antes de realmente entrarem ao palco, sempre com a péssima desculpa de que é para esperar mais gente chegar. Se eles não vão ser pontuais, porque sua plateia deveria? Respeito gera respeito... Além do mais, eles não ganhariam nem menos nem mais por apresentarem na hora ou depois, já que os ingressos são comprados antecipadamente.
Todavia, tais pequenos inconvenientes nem chegaram a percepção daquele feliz casal, que para eles tudo estava perfeito. Exceto quando um sujeito, com o rosto encoberto, subiu ao palco e anunciou um assalto, mostrando que em cada porta de saída haviam mais de seus semelhantes aos pares. Isso por se só já era bastante pertubação para uma noite, porém não há situação que não possa ficar pior: Atrás da cortina um assistente de palco que está sendo abordado por um dos assaltantes derruba um candelabro, parte do cenário, na tapeçaria e começa um incêndio que avançava rapidamente e que era não contido (devido as ações limitadas que os reféns possuíam).
A falta de reação e a indecisão dos assaltantes diante do caso, fez chegar a situação de insustentabilidade do assalto. Ou todos ficariam presos ali repassando seus pertences enquanto eram cercados pelo fogo ou o assalto acabava e todos fugiriam do lugar. Neste momento, o sujeito que estava no palco respirou fundo e disse calmamente:
— Senhoras e senhores, obrigado por participar deste assalto mal sucedido. Por favor, levantasse e saiam em pânico e desordenadamente pelas saídas que estão atrás de vocês. Pois se algum momento da sua vida é para se deixar tomar por estes sentimentos, uma boa hora é agora. Tenham uma boa noite.
Por medo ou por choque para com relação aos acontecimentos, como numa psicologia reversa, todos, incrivelmente, se levantaram e saíram calma e ordenadamente em fila.
...Até, claro, o fogo afugentar os residentes do teatro e alguém gritar "RATOOOOO" de um lado e "BARATAAAA" do outro...
E assim o mundo reinou em caos e destruição até o cair do sono.
sou forte, sou por acaso
O
muro é tão pequeno, só barra mesmo aqueles barcos de papel que pensávamos de
mentirinha que desembocavam no mar e a televisão transmitia que eram parte do
lixo que entupia suas bocas-de-lobo. Na verdade, eles viraram a esquina e continuam
ali, parados na porra do muro, como nós continuamos.
e faltam oito anos pra abrirmos a cápsula do tempo!
O Real brilho dos diamantes
Até
onde se sabe, e temos razões sensoriais para tal, existem réplicas
deveras verídicas, se é que me entendem a metáfora. Supostas
falsificações que são em tudo como seus “originais”, estes que
recebem tal nome muito mais por um caráter pioneiro ou por um
fetiche de marca do quê pela qualidade ou qualquer outra coisa.
Naturalmente que existem os casos, e admito não serem poucos, das
coisas que só nos servem “originais” - e reitero a abstração
semântica do termo. - mas admitamos que existem réplicas tão boas,
ou “segundas marcas” até melhores que as ditas “grandes
marcas” ou os “originais”.
Poderia
eu pegar exemplo de marcas consagradas, de emblemas que carimbam
gerações, de etiquetas que têm história no percurso humano do
consumo. Mas partirei, para melhor valoração de meu ponto de vista,
de um exemplo mais natural, menos adornado, embora não menos
fetichizado. Trato dos diamantes.
O
fetiche por esta preciosa pedra, que, diga-se de passagem, não tem
nada de tão valioso assim se em estado natural. Ele passa a causar
palpitações nos corações é quando tratado, beneficiado, lixado,
modelado... deem o nome que apetecer-lhes. O que se lhe dá
substância enquanto produto é a mais-valia de um trabalho humano; o
que dizem dar-lhe valor é o seu caráter raro, o que não é
verdade, pois sem um trabalho de um perito competente o valor da
pedra cai substancialmente. O que lhe dá valor no que se refere ao
apreço social é o preço que pagam por ele, pura e simplesmente.
Crê que não, leitor? Realmente intenta pensar que é mesmo o
caráter seleto do ordenamento dos carbonos que formam o diamante que
lho conferem o status de “posse monarca”? Então vamos lá.
Existem
elementos tão ou mais raros que o diamante na natureza, mas o
fetiche por estes produtos não é tanto quanto o do emblemático
diamante, o que já elimina acreditar que simplesmente por ser raro o
diamante tem estima social; claro que seu caráter solene na natureza
empenha-lhe um preço alto de comércio, se bem trabalhado, mas trato
aqui é do valor que ele tem perante o social. Sim, em certa medida
esbarra no caráter solene dele no meio natural, mas tão somente
porque cobram horrores para pegá-lo de lá.
O
que atribui valor ao diamante é o preço que pagam nele. Basta
pensar que existem réplicas que emulam seu brilho peculiar de
maneira maestral, idêntica até, ao dito “original”. Estas peças
só não têm o mesmo valor aos olhos populares, embora sendo
esteticamente idênticas, pela ausência do caráter fetichista
esdrúxulo e absurdo que é pagar milhares de reais para por uma
pedra lixada sobre um dos dedos.
Alguns
até dirão: “Mas Ian... Estas réplicas que você cita não têm a
resistência do diamante, não têm seu caráter duro.” e admito
que elas estejam certas, mas nunca vi um portador deste adorno, ou
portadora, sair por ai dando marteladas em seus anéis ou brincos
para mostrar a rigidez da rocha que porta. Ninguém lho faz;
certamente fazem é encher de não-me-toques aqueles mais ávidos por
acariciar a fria superfície do calhau.
Enfim.
Diamantes causam orgasmos não por serem belos, mas por serem caros;
dinheiro é fetiche; esse é meu ponto. Deste modo entendemos a
ensandecida busca pelas marcas, pelo caro... e não basta ser caro,
como indiretamente salientei com este texto... têm de haver também
a impressão popular. Estas duas em conjunto moldam os consumos
sociais, as aspirações e as noções de valor e de belo, de
aceitável, de agradável. Absurdos como estes são os que nos
permeiam o tempo todo.
Azul e rosa são só cores de céu com humores diferentes
Donas de casa são
hipócritas e CEO’s de grandes empresas têm, sim, consciência coletiva. A sua
mãe é machista e o seu amigo não gosta de futebol. Sua namorada não conversa
pelos cotovelos, nem é ciumenta demais, nem é mais implicante que você. E o seu
namorado, em contrapartida, não é igual ao namorado da sua amiga.
Uma das piores
coisas que o ser humano jamais vai ser capaz de fazer é estereotipar. Nós somos
tão complexos, tão diferentes; sempre fomos, e, apesar desse jeito de pensar
todo ‘globalizado’, ainda continuamos diferentes. Por isso, fecho os ouvidos
pra essas pessoas que insistem em dizer que os homens são todos iguais ou que o
outro gênero idem. Que mães isso e pais aquilo. Meninos de azul, meninas de
rosa.
Isso só
demonstra mente pequena e falta de criatividade e sensibilidade. Cada um de nós é um universo. Há tanta
coisa na mente de cada um, tantas escolhas distintas, experiências boas e
ruins... E, quanto tudo te escapar à ponta da língua, não se esqueça do código
genético, cada um tem o seu, e isso é fato científico, caros ‘estereotipadores’.
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