O Real brilho dos diamantes

             Até onde se sabe, e temos razões sensoriais para tal, existem réplicas deveras verídicas, se é que me entendem a metáfora. Supostas falsificações que são em tudo como seus “originais”, estes que recebem tal nome muito mais por um caráter pioneiro ou por um fetiche de marca do quê pela qualidade ou qualquer outra coisa. Naturalmente que existem os casos, e admito não serem poucos, das coisas que só nos servem “originais” - e reitero a abstração semântica do termo. - mas admitamos que existem réplicas tão boas, ou “segundas marcas” até melhores que as ditas “grandes marcas” ou os “originais”.
          Poderia eu pegar exemplo de marcas consagradas, de emblemas que carimbam gerações, de etiquetas que têm história no percurso humano do consumo. Mas partirei, para melhor valoração de meu ponto de vista, de um exemplo mais natural, menos adornado, embora não menos fetichizado. Trato dos diamantes.
               O fetiche por esta preciosa pedra, que, diga-se de passagem, não tem nada de tão valioso assim se em estado natural. Ele passa a causar palpitações nos corações é quando tratado, beneficiado, lixado, modelado... deem o nome que apetecer-lhes. O que se lhe dá substância enquanto produto é a mais-valia de um trabalho humano; o que dizem dar-lhe valor é o seu caráter raro, o que não é verdade, pois sem um trabalho de um perito competente o valor da pedra cai substancialmente. O que lhe dá valor no que se refere ao apreço social é o preço que pagam por ele, pura e simplesmente. Crê que não, leitor? Realmente intenta pensar que é mesmo o caráter seleto do ordenamento dos carbonos que formam o diamante que lho conferem o status de “posse monarca”? Então vamos lá.
               Existem elementos tão ou mais raros que o diamante na natureza, mas o fetiche por estes produtos não é tanto quanto o do emblemático diamante, o que já elimina acreditar que simplesmente por ser raro o diamante tem estima social; claro que seu caráter solene na natureza empenha-lhe um preço alto de comércio, se bem trabalhado, mas trato aqui é do valor que ele tem perante o social. Sim, em certa medida esbarra no caráter solene dele no meio natural, mas tão somente porque cobram horrores para pegá-lo de lá.
              O que atribui valor ao diamante é o preço que pagam nele. Basta pensar que existem réplicas que emulam seu brilho peculiar de maneira maestral, idêntica até, ao dito “original”. Estas peças só não têm o mesmo valor aos olhos populares, embora sendo esteticamente idênticas, pela ausência do caráter fetichista esdrúxulo e absurdo que é pagar milhares de reais para por uma pedra lixada sobre um dos dedos.
             Alguns até dirão: “Mas Ian... Estas réplicas que você cita não têm a resistência do diamante, não têm seu caráter duro.” e admito que elas estejam certas, mas nunca vi um portador deste adorno, ou portadora, sair por ai dando marteladas em seus anéis ou brincos para mostrar a rigidez da rocha que porta. Ninguém lho faz; certamente fazem é encher de não-me-toques aqueles mais ávidos por acariciar a fria superfície do calhau.
               Enfim. Diamantes causam orgasmos não por serem belos, mas por serem caros; dinheiro é fetiche; esse é meu ponto. Deste modo entendemos a ensandecida busca pelas marcas, pelo caro... e não basta ser caro, como indiretamente salientei com este texto... têm de haver também a impressão popular. Estas duas em conjunto moldam os consumos sociais, as aspirações e as noções de valor e de belo, de aceitável, de agradável. Absurdos como estes são os que nos permeiam o tempo todo.

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